sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Divergências no seio do campo anti-imperialista

por Thierry Meyssan

 Quando o seu país foi atacado pelos jiadistas, em 2011, o Presidente Bachar al-Assad reagiu a contra-corrente: em vez de reforçar os poderes dos serviços de segurança, ele diminuiu-os. Seis anos mais tarde, o seu país está em vias de sair vencedor da mais importante guerra desde a do Vietname. O mesmo tipo de ataque está em vias de se produzir na América Latina, onde suscita uma resposta muito mais dentro do habitual. Thierry Meyssan expõe aqui a diferença de análise e estratégia dos Presidentes Assad por um lado, Maduro e Morales pelo outro. Não se trata de colocar esses líderes em compita, mas de apelar a cada um deles para extrair lições políticas e tomar em boa conta a experiência das últimas guerras.

 Em Maio de 2017, Thierry Meyssan explicava na Russia Today em que é que as elites sul-americanas se enganam quanto ao imperialismo dos EUA. Ele insistia acerca da mudança de paradigma dos conflitos armados actuais e a necessidade de repensar, radicalmente, a maneira de defender a pátria.


A operação de desestabilização da Venezuela prossegue. Numa primeira fase, grupúsculos violentos, manifestando-se contra o governo, mataram transeuntes, ou seja cidadãos que se tinham juntado a eles. Num segundo tempo, os grandes distribuidores de géneros alimentares montaram uma rotura de abastecimentos nos supermercados. Depois, alguns membros das forças da ordem atacaram dois ministérios, apelaram à rebelião e entraram na clandestinidade.

A imprensa internacional não cessa de atribuir ao «regime» os mortos das manifestações enquanto que numerosos vídeos atestam que eles foram deliberadamente assassinados pelos próprios manifestantes. Com base nestas falsas informações, ela qualifica o Presidente Nicolas Maduro de «ditador» como já o havia feito, seis anos atrás, vis-à-vis a Mouamar Kadhaffi e a Bachar al-Assad.

Os Estados Unidos utilizaram a Organização dos Estados Americanos (OEA) contra o Presidente Maduro da mesma maneira como usaram anteriormente a Liga Árabe contra o Presidente al-Assad. Caracas, sem esperar ser excluída da Organização denunciou tal método e abandonou-a ela própria.

No entretanto o governo Maduro apresenta duas falhas no seu activo:
- uma grande parte dos seus eleitores não se deslocou às urnas aquando das eleições legislativas de Dezembro de 2015, deixando a oposição arrecadar a maioria no Parlamento.
- deixou-se surpreender pela crise dos géneros alimentícios, quando, no passado, este tipo de manobra já tinha sido montado no Chile contra Allende e na Venezuela contra Chávez. Precisou de várias semanas para montar novos circuitos de aprovisionamento.

Com toda a probabilidade, o conflito que começa na Venezuela não irá parar nas suas fronteiras. Ele abrasará todo o Noroeste do continente sul-americano e as Caraíbas.

Um passo suplementar foi franqueado com preparativos militares contra a Venezuela, a Bolívia e o Equador, a partir do México, da Colômbia e da Guiana Inglesa. Esta coordenação é operada pela equipe do antigo Gabinete Estratégico para a Democracia Global (Office of Global Democracy Strategy); uma unidade criada pelo Presidente Bill Clinton, depois prosseguida pelo Vice-presidente Dick Cheney e pela sua filha Liz. A existência deste foi confirmada por Mike Pompeo, o actual director da CIA. O que levou, portanto, à menção na imprensa pelo presidente Trump da existência de uma opção militar dos Estados Unidos.

Para salvar o seu país, a equipe do Presidente Maduro recusou seguir o exemplo do Presidente al-Assad. Segunda ela, as situações são completamente diferentes. Os Estados Unidos, principal potência capitalista, atacariam a Venezuela afim de lhe roubar o seu petróleo, de acordo com um esquema muitas vezes repetido no passado, em três continentes. Este ponto de vista acaba de ser apoiado por um discurso recente do Presidente boliviano, Evo Morales.

Lembre-mo-nos que em 2003 e 2011, o Presidente Saddam Hussein, o Guia Muammar Kadhafi e muitos conselheiros do Presidente Assad mantinham a mesma análise. Segundo eles, os Estados Unidos implicaram-se sucessivamente no Afeganistão e no Iraque, depois na Tunísia, no Egipto, na Líbia e na Síria unicamente para fazer cair os regimes que resistiam ao seu imperialismo e controlar os recursos de hidrocarbonetos do Médio-Oriente Alargado. Inúmeros autores anti-imperialistas seguem esta análise, na actualidade, por exemplo tentando explicar a guerra contra a Síria pela interrupção do projecto do gasoduto catariano.

Ora, esta análise mostrou-se errada. Os Estados Unidos não buscavam nem derrubar os governos progressistas (Líbia e Síria), nem roubar o petróleo e gás da região, mas, sim destruir os Estados, para reenviar as populações à pré-história, para a época em que «o homem era o lobo do homem».

Os derrubes de Saddam Hussein e de Muammar Gaddafi não restabelecerem a paz. As guerras continuaram apesar da instalação de um governo de ocupação no Iraque, depois governos na região incluindo colaboradores do imperialismo opostos à independência nacional. Elas continuam ainda atestando que Washington e Londres não queriam derrubar regimes, nem defender democracias, mas antes esmagar os povos. É uma constatação fundamental que altera a nossa compreensão quanto ao imperialismo contemporâneo.

Esta estratégia, radicalmente nova, foi ensinada por Thomas PM Barnett desde o 11- de-Setembro de 2001. Ela foi publicamente revelada e exposta em Março de 2003 —quer dizer precisamente antes da guerra contra o Iraque— num artigo na Esquire, depois no livro homónimo do Pentágono The Pentagon’s New Map («O Novo Mapa do Pentágono»- ndT), mas ela parece tão cruel que ninguém imaginou que pudesse vir a ser posta em acção.

Trata-se para o imperialismo de dividir o mundo em dois : de um lado uma zona estável que beneficia do sistema, do outro um caos espantoso onde ninguém pense sequer em resistir, mas unicamente em sobreviver; uma zona na qual as multinacionais possam extrair as matérias primas, das quais precisam, sem terem que dar satisfações a ninguém.

JPEG - 37.9 kb
Segundo este mapa, extraído de um Powerpoint de Thomas P. M. Barnett durante uma conferência no Pentágono em 2003, todos os Estados da zona rosada devem ser destruídos. Este projecto nada tem a ver nem com a luta de classes, no plano nacional, nem com a exploração dos recursos naturais. Depois do Médio-Oriente Alargado, os estrategas dos EU preparam-se para reduzir a ruínas o Noroeste da América Latina.

Desde o século XVII e a guerra civil britânica, o Ocidente desenvolveu-se entre o medo do caos. Thomas Hobbes ensinou-nos a suportar a “Razão de Estado”, em vez de arriscar reviver esse tormento. A noção de caos só nos voltou a ser trazida com Leo Strauss, após a Segunda Guerra Mundial. Este filósofo, que formou pessoalmente numerosas personalidades do Pentágono, entendia construir uma nova forma de Poder mergulhando uma parte do mundo no inferno.

A experiência do jiadismo no Médio-Oriente Alargado mostrou-nos o que é o caos.

Tendo reagido como se esperava dele aos acontecimentos de Daraa (março-abril de 2011), enviando o exército para reprimir os jiadistas da mesquita al-Omari, o Presidente al-Assad foi o primeiro a compreender aquilo que se passava. Longe de aumentar os poderes das forças de segurança para reprimir a agressão externa, ele deu ao povo os meios para defender o país.

Primeiro, levantou o estado de emergência, dissolveu os tribunais de excepção, libertou as comunicações de Internet, e proibiu às forças armadas de fazer uso das suas armas quando isso pudesse colocar em risco inocentes.

Estas decisões contra-a-corrente implicavam pesadas consequências. Por exemplo, aquando do ataque a um comboio militar em Banias, os soldados abstiveram-se de usar as suas armas em legítima defesa. Arriscaram ser mutilados pelas bombas dos atacantes, e até morrer, mais do que atirar, pelo risco de ferir os habitantes que os viam ser massacrados sem intervir.

Como muitos, à época, eu pensei que se tratava de um Presidente fraco e de soldados demasiado leais, que a Síria ia ser esmagada. No entanto, seis anos mais tarde, Bashar al-Assad e os exércitos sírios ganharam a sua aposta. Se a princípio, os soldados lutaram sozinhos contra a agressão estrangeira, pouco a pouco, cada um dos cidadãos foi-se envolvendo, cada um em seu posto, afim de defender o país. Os que não puderam ou não quiseram resistir exilaram-se. Claro, os Sírios têm sofrido muito, mas a Síria é o único Estado no mundo, após a guerra do Vietname (Vietnã-br), a ter resistido até que o imperialismo se cansa e desiste.

Em segundo lugar, face à invasão de uma multidão de jiadistas originários de todas as comunidades muçulmanas, desde Marrocos até à China, o Presidente Assad decidiu abandonar uma parte do território para conseguir salvar o seu Povo.

O Exército Árabe Sírio recuou para a zona da “Síria útil”, quer dizer para as cidades, abandonando as zonas rurais e os desertos aos agressores. Enquanto Damasco velava, sem nenhuma falha, pelo aprovisionamento de alimentos a todas as regiões que controlava. Contrariamente a uma ideia feita no Ocidente, apenas houve fome nas áreas controladas pelos jiadistas e em algumas cidades sitiadas por eles; os «rebeldes estrangeiros» (perdoem o “oxímoro”), aprovisionados pelas associações «humanitárias» ocidentais, utilizaram a distribuição de pacotes de alimentos para controlar as populações que eles próprios submetiam à fome.

O povo sírio constatou por si próprio que apenas a República, e não, os Irmãos Muçulmanos e seus jiadistas, o alimentava e o protegia.

Em terceiro lugar, o Presidente Assad traçou, aquando de um discurso pronunciado a 12 de Dezembro de 2012, a maneira como ele pensava refazer a unidade política do país.

Ele indicou, nomeadamente, a necessidade de redigir uma nova constituição e de submetê-la à adopção por uma maioria qualificada do Povo, depois proceder à eleição democrática da totalidade dos responsáveis institucionais, neles incluído o Presidente, é claro.

À época, os Ocidentais fizeram troça da pretensão do Presidente Assad em convocar eleições em pleno período de guerra. Hoje em dia, todos os diplomatas envolvidos na resolução do conflito, incluindo os das Nações Unidas, apoiam o plano Assad.

Enquanto os comandos jiadistas circulavam por todo o país, nomeadamente em Damasco, e assassinavam políticos em suas casas com suas famílias, o Presidente Assad encorajava os seus opositores internos a pronunciarem-se. Ele garantiu a segurança do liberal Hassan al-Nouri e do marxista Maher al-Hajjar afim de que assumissem, também, o risco de se apresentarem à eleição presidencial de Junho de 2014. Apesar do apelo ao boicote pelos Irmãos Muçulmanos e pelos governos Ocidentais, apesar do terror jiadista, apesar da presença no exílio, no exterior, de milhões de cidadãos, 73,42% dos eleitores responderam presente.

Identicamente, desde o início da guerra, ele criou um Ministério da Reconciliação Nacional, o que jamais se vira num país em guerra. Ele confiou-o ao presidente de um partido aliado, o SSNP, de Ali Haidar. Este negociou e concluiu mais de um milhar de acordos promovendo a amnistia(anistia-br) de cidadãos que havia pegado em armas contra a República e a sua integração no seio do Exército Árabe Sírio.

Durante esta guerra, o Presidente Assad jamais usou a força contra o seu próprio Povo, por muito mal que digam aqueles que o acusam gratuitamente de torturas generalizadas. Assim, por exemplo, ele nunca estabeleceu a conscrição em massa, o recrutamento obrigatório. É sempre possível a um jovem escapar ao serviço militar. Procedimentos administrativos permitem a qualquer cidadão do sexo masculino escapar ao serviço nacional se ele não quiser defender o seu país de armas na mão. Apenas os exilados, que não tiveram a oportunidade de proceder a estas “démarches” podem estar em contravenção das leis.

Durante seis anos, o Presidente Assad não parou de, por um lado, apelar ao seu povo, de lhe conferir responsabilidades e, por outro, de tentar alimentá-lo e protegê-lo tanto quanto podia. Ele assumiu sempre o risco de dar antes de receber. É por isso que, hoje em dia, ele ganhou a confiança do seu Povo e pode contar com o apoio activo.

As elites sul-americanas enganam-se quando continuam a luta das décadas precedentes por uma mais justa distribuição das riquezas. A luta principal não é mais entre a maioria do povo e uma pequena classe de privilegiados. A escolha que se colocou aos povos do Médio-Oriente Alargado e à qual os Sul-americanos terão que responder, por sua vez, é a de defender a Pátria ou morrer.

Os factos provam-no: o imperialismo contemporâneo não visa mais, em especial, meter a mão nos recursos naturais. Ele domina o mundo e pilha sem escrúpulos. Agora, o que ele pretende, também, é esmagar os Povos e destruir as sociedades das regiões nas quais explora já os recursos.

Nesta era de destruição, apenas a estratégia de Assad permite ficar de pé e livre.
 
Tradução
Alva

aqui:http://www.voltairenet.org/article197501.html

domingo, 13 de agosto de 2017

Venezuela: Rupturas na narrativa


por Thierry Deronne
 
Em 2 de agosto pouco depois de uma forte mobilização cidadã que se manifestou pela eleição da Assembleia Constituinte, os venezuelanos puderam ver na Globovision (uma das televisões privadas maioritárias do país) Henry Ramos Allup, um dos mais beligerantes líderes da oposição declarar: "decidimos participar nas eleições regionais, na dos presidentes de câmara e nas presidenciais". [1] Um sector importante da direita demarca-se assim publicamente das violências da extrema-direita de Leopoldo Lopez e admite publicamente a validade do Centro Nacional Eleitoral (CNE), que até à pouco denegria como instrumento chavista. Legitimar o retorno à via democrática preconizado pelo presidente Maduro? A "história contada" a toda a hora, destilada todos os dias, por todos os meios e que em consequência a quase totalidade dos cidadãos ocidentais acreditam, começa a rodar no vazio.

Quanto mais tempo passa, mais o mamute da concentração mundial dos media tem dificuldades em impedir a difusão de elementos que lhe escapam. A imagem de uma guerra civil ou de uma oposição democrática em luta contra um regime repressivo já não se mantém. Sabe-se que a maioria das vítimas foi causada pelas violências da extrema-direita [2] , que esta violência está confinada a alguns por cento do território – zonas ricas ou paramilitarizadas (municípios de direita e fronteira com a Colômbia) – que a grande maioria vive em paz e rejeita estas violências, incluindo eleitores de direita [3] . O "regime" (na realidade um governo eleito) prendeu e julgou rapidamente os membros das forças da ordem que fizeram uso de força de excessiva [4]


 
 
É preciso destruir o perigoso exemplo de uma Assembleia Constituinte. Enquanto em 4 de agosto militantes chavistas, feministas, ecologistas, militantes da cultura popular ou contra a especulação imobiliária estreiam em Caracas os seus lugares de deputados constituintes [5] os grandes media fazem tudo para denegrir o sufrágio dos venezuelanos tornando credíveis as denúncias de "fraude" lançadas desde Londres pelo diretor da Smartmatic – uma sociedade comercial que forneceu máquinas ao Centro Nacional Eleitoral (CNE) mas que não tem acesso aos dados da votação [6] .

Os media não mencionam uma fonte bem mais séria. Após terem observado o escrutínio localmente, o Conselho dos Peritos Eleitorais da América Latina (CEELA) formado por juristas e ex-presidentes de tribunais eleitorais de vários países da América Latina concluiu que "o resultado das eleições na Venezuela é verídico e fiável". O CEELA "utilizou o mesmo sistema que utilizou em todas as eleições, incluindo as de 2015 em que a oposição obteve a maioria dos lugares na Assembleia Nacional". Este sistema eleitoral, qualificado pelo observador Jimmy Carter de "melhor do mundo" [7] permite a "a qualquer pessoa verificar que os votantes foram efetivamente os 8 089 320 anunciados pelo CNE" [8] .

Uma das consequências da velocidade emocional, da comunicação instantânea por satélite, da falta de contexto, etc que caracterizam qualquer campanha de propaganda chama-se a obrigação da média . Por um lado, milhares de órgãos de comunicação martelam-nos exatamente a mesma versão, por outro a Venezuela real permanece distante e de difícil acesso. A maioria dos cidadãos, intelectuais e ativistas é reduzida a fazer uma média forçosamente frágil entre a enorme quantidade de mentiras diárias e uma minoria com verdade. O que dá, no melhor dos casos é que "há uma luta entre blocos, há problemas de direitos humanos, há uma simetria na violência, uma guerra civil e condeno a violência venha do onde vier, etc..." E no pior, o prazer cobarde de repetir os títulos de 99% dos media sem nada saber da Venezuela, de gritar com a matilha para se sentirem poderosos, de apontar o dedo e ir caçar os "partidários do ditador". Em França sobretudo, mas também em Espanha, a Venezuela é substituída por um ecrã em branco para sessões de ajustes de contas entre correntes políticas. O problema é que a quantidade de repetição, mesmo se cria uma qualidade de opinião não faz por si uma verdade. O número de títulos ou de imagens idênticas poderia ser mil vezes mais elevado que isso não significaria que nos falassem do real.

Como, portanto, voltar a conectar-se ao real? Quando o Movimento dos Sem Terra no Brasil, o conjunto dos movimentos sociais [9] , os principais partidos de esquerda da América Latina [10] ou as 28 organizações venezuelanas de direitos humanos [11] denunciam a violenta desestabilização da democracia venezuelana e apoiam a mobilização dos cidadãos para eleger uma Assembleia Constituinte, dispõe-se então de um vasto leque de conhecimentos mais profundos da realidade provenientes de organizações democráticas, que a uma "ciência-política" europeia "média" obrigada a preservar um mínimo de "respeitabilidade" nos media para proteger a sua carreira.

Para não deixar assassinar Salvador Allende de novo e não agredir os que rejeitam a febre da propaganda, que se descobrirá amanhã que tinham razão sobre a Venezuela, a sociedade ocidental necessita de uma democratização radical dos meios de comunicação social – o desenvolvimento do pluralismo de informação em França é obrigação legal do CSA [12] e paralelamente a criação e multiplicação de meios de comunicação fora da esfera privada quer sejam públicos quer associativos, criar novas escolas onde sejam restabelecidos como fatores centrais de um jornalismo ao serviço dos cidadãos: o tempo de investigação, a aquisição de cultura histórica, a possibilidade de viajar aos locais [13] e escutar um sector tão vivo como o dos movimentos sociais.

Caracas, 4 de agosto 2017 

Fotos (Invisíveis nos nossos media): Assembleia Constituinte a instalar-se no Congresso em Caracas, 4 de agosto.

'.     '.

'.     '.


Notas
1 – Ver entrevista completa na televisão privada Globovision: www.youtube.com/watch?v=9unGt_pSCnM . Na Venezuela a maioria dos media, como a economia em geral são privados e opõem-se às políticas sociais do governo. Ler Thomas Cluzel ou l'interdiction d'informer sur France Culture
2 – Para um gráfico e um quadro exato e completo das vítimas, dos sectores sociais, dos responsáveis e pessoas condenadas, ver venezuelanalysis.com/analysis/13081 ; Sobre os assassinatos racistas da direita: Sous les Tropiques, les apprentis de l'Etat Islamique , 27 juillet 2017; Le Venezuela est attaqué parce que pour lui aussi "la vie des Noirs compte" (Truth Out) 24 de julho de 2017
3 – Sobre as sondagens da firma privada Hinterlaces: Nouveaux sondages surprises au Venezuela (juillet 2017)
4 – Sobre prisões de membros das forças da ordem, ver Direitos Humanos na Venezuela, dois pesos e duas medidas. venezuelanalysis.com/analysis/13081 E um quadro completo da situação em venezuelanalysis.com/analysis/13081
5 – Sobre a mobilização popular para eleger a Constituinte: venezuelainfos.wordpress.com/... pode-se ler entre outros: Quels sont les enjeux du vote du 30 juillet pour l'Assemblée Nationale Constituante ? 28 juillet 2017, De qui ont peur les Etats-Unis et la droite mondiale? 28 juillet 2017, Génération "chaviste rebelle": les visages et les voix des candidat(e)s député(e)s à la Constituante, par Angele Savino (L'Huma) 27 de julho de 2017
6 – Ver "O CNE rejeita as alegações de fraude" www.cne.gob.ve/web/sala_prensa/noticia_detallada.php?id=3554
7 – Former US President Carter : Venezuelan Electoral System "Best in the World" ",
venezuelanalysis.com/news/7272
8 – Informações dadas em conferência de imprensa da CEELA e retomadas por El Universal (jornal da oposição) www.eluniversal.com/...
9 – Reunião de movimentos sociais do Brasil com lista de assinaturas: baraodeitarare.org.br/...
10 – Les partis de gauche et les mouvements sociaux d'Amérique Latine appuient un peuple qui écrit sa constitution à la barbe de l'Empire. 21 de julho de 2017
11 – 28 organisations des droits humains demandent le respect du droit au suffrage pour l'Assemblée Constituante 29 de julho de 2017
12 – Com efeito, segundo a lei, uma das obrigações do Conseil Supérieur de l'Audiovisuel (CSA), as obrigações da lei francesa n° 86-1067 de 30 setembro 1986, modificada e completada relativa à liberdade de comunicação (e que se gostaria de ver aplicada) diz: Artigo 29: o CSA vela para que uma parte suficiente dos recursos em frequência seja atribuída aos serviços editados por uma associação e realizando uma missão de comunicação social de proximidade, entendida como para favorecer as trocas entre grupos sociais e culturais de expressão das diferentes correntes socioculturais, a manutenção do desenvolvimento da proteção do ambiente ou a luta contra a exclusão.
13 – A entrada em força dos grandes acionistas privados no campo mediático levou a cortes nos orçamentos e por consequência à supressão de correspondentes estrangeiros e ao aumento da dependência de agências como a AFP, Reuters ou EFE. Ora estas recentemente procederam ao blanchi le terrorisme d'extrême droite en le relookant comme un "combat pour la liberté" (Reuters) ou fizeram passar les photos d'électeurs chavistes pour des électeurs de droite (EFE) .


O original encontra-se em www.legrandsoir.info/venezuela-ruptures-du-storytelling.html .
Tradução de DVC.


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

sábado, 12 de agosto de 2017

O chamamento da guerra nuclear


por John Pilger
 
O comandante do submarino dos EUA diz: "Todos nós vamos morrer um dia, alguns mais cedo e outros mais tarde. O perturbador sempre foi que nunca se está pronto para isso, pois não se sabe quando é que chega o momento. Bem, agora sabemos e não há nada a fazer".

Ele diz que estará morto em Setembro. Levará cerca de uma semana para morrer, embora ninguém possa estar muito certo. Os animais viverão mais.

A guerra acabou em um mês. Os Estados Unidos, a Rússia e a China foram os protagonistas. Não está claro se foi começada por acidente ou por erro. Não houve vitorioso. O hemisfério norte está contaminado e agora sem vida.

Uma cortina de radioactividade está a mover-se rumo à Austrália e Nova Zelândia, ao sul da África e à América do Sul. Em Setembro, as últimas cidades e aldeias sucumbirão. Tal como no norte, a maior parte dos edifícios permanecerão intactos, alguns iluminados pelos últimos vislumbres de luz eléctrica.

Este é o modo como o mundo acaba
Não com um estrondo, mas com um suspiro


Estas linhas do poema de T.S. Eliot, The Hollow Men (Os homens vazios), surgem no início do romance On the Beach (Na praia) de Nevil Shute, o qual me deixou próximo às lágrimas. Os endossos impressos na capa diziam o mesmo.

Publicado em 1957 na altura da Guerra Fria, quando tantos escritores estavam silenciosos ou acovardados, é uma obra-prima. A princípio a linguagem sugere uma relíquia refinada; mas nada do que li sobre guerra nuclear é tão implacável como a sua advertência. Nenhum outro livro é tão urgente.

Alguns leitores recordarão o filme a branco e preto de Hollywood estrelado por Gregory Peck como comandante da US Navy que leva seu submarino para a Austrália a fim de aguardar o espectro silencioso e informe descer sobre o último ser vivo do mundo.

Li On the Beach pela primeira vez há poucos dias, terminando-o quando o Congresso dos EUA aprovou uma lei para travar guerra económica à Rússia, a segunda mais letal potência nuclear do mundo. Não havia justificação para esta votação insana, excepto a ânsia da pilhagem.

As "sanções" também se destinam à Europa, principalmente à Alemanha, a qual depende do gás natural russo, e a companhias europeias que fazem negócios legítimos com a Rússia. Naquilo que passou por debate no Capitol Hill, o mais palrador dos senadores não deixou dúvida de que o embargo se destinava a forçar a Europa a importar o dispendioso gás americano.

Seu objectivo principal parece ser a guerra – a guerra real. Nenhuma provocação tão extrema pode sugerir qualquer outra coisa. Eles parecem almejar isto, muito embora os americanos tenham pouca ideia do que é a guerra. A Guerra Civil de 1861-65 foi a última no seu território. Guerra é o que os Estados Unidos fazem aos outros.

O único país a ter utilizado armas nucleares contra seres humanos. Desde então eles destruíram grande número de governos, muitos deles democracias, e destruíram sociedades inteiras – os milhões de mortos no Iraque foram um fracção da carnificina na Indochina, a qual o presidente Reagan chamou de "nobre causa" e o presidente Obama corrigiu como a tragédia de um "povo excepcional". Ele não estava a referir-se aos vietnamitas.

Ao filmar no ano passado no Lincoln Memorial, em Washington, ouvi acidentalmente um guia do National Parks Service a dar uma lição a um grupo de escolares adolescentes: "Ouçam", disse ele. "Nós perdemos 58 mil jovens soldados no Vietname e eles morreram a defender a vossa liberdade".

De repente, a verdade era invertida. Nenhuma liberdade foi defendida. A liberdade foi destruída. Um país de camponeses foi invadido e milhões do seu povo foram mortos, mutilados, expulsos, envenenados, 60 mil dos invasores puseram fim à sua própria vida. Ouçam, realmente.

Uma lobotomia é executada a cada geração. Os factos são removidos. A história é expurgada e substituída pelo que a revista Time chama "um eterno presente". Harold Pinter descreveu isto como "manipulação de poder à escala mundial, mascarando-se como uma força para o bem universal, um brilhante, mesmo brilhante, acto de hipnose com grande êxito [o que quer dizer] que nunca aconteceu. Nada alguma vez aconteceu. Mesmo enquanto estava a acontecer não estava a acontecer. Não importava. Não tinha interesse".

Aqueles que se auto-denominam liberais ou tendenciosamente "a esquerda" são participantes ávidos desta manipulação e desta lavagem cerebral, a qual hoje reverte a um nome: Trump.

Trump é louco, um fascista, um tolo da Rússia. Ele também é uma prenda para "cérebros liberais conservados no formaldeído da política de identidade", escreveu Luciana Bohne de modo inesquecível. A obsessão com Trump como homem – não Trump como um sintoma e uma caricatura de um sistema duradouro – atrai grande perigo para todos nós.

Enquanto prosseguem suas fossilizadas agendas anti-russas, media narcisistas tais como o Washington Post, a BBC e o Guardian omitem a essência da mais importante narrativa política do nosso tempo pois fomentam a guerra numa escala de que não posso recordar-me ao longo da minha vida.

Em 3 de Agosto, em contraste com a extensão que o Guardian tem dado à idiotice de que os russos conspiraram com Trump (o que recorda a difamação da extrema-direita de John Kennedy como "agente soviético"), o jornal enterrou, na página 16, a notícia de que o presidente dos Estados Unidos fora forçado a assinar uma lei do Congresso declarando guerra económica à Rússia. Ao contrário de todas as outras assinaturas de Trump, esta foi efectuada em segredo virtual e acrescentada com uma advertência do próprio Trump de que era "claramente inconstitucional".

Está a caminho um golpe contra o homem na Casa Branca. Não por ele ser um ser humano odioso, mas sim porque firmemente deixou claro que não quer guerra com a Rússia.

Este vislumbre de sanidade, ou de simples pragmatismo, é anátema para os administradores da "segurança nacional" que defendem um sistema baseado na guerra, vigilância, armamentos, ameaça e capitalismo extremo. Martin Luther King chamou-os "os maiores fornecedores de violência no mundo de hoje".

Eles cercaram a Rússia e a China com mísseis e um arsenal nuclear. Eles utilizaram neo-nazis para instalar um regime instável e agressivo na fronteira da Rússia – o caminho pelo qual Hitler invadiu, provocando as mortes de 27 milhões de pessoas. O seu objectivo é desmembrar a moderna Federação Russa.

Em resposta, "parceria" é uma palavra usada incessantemente por Vladimir Putin – qualquer coisa, parece, que possa travar nos Estados Unidos um impulso evangélico para a guerra. A incredulidade na Rússia pode agora ter-se transformado em medo e talvez uma certa resolução. Os russos quase certamente têm contra-ataques nucleares preparados. Ensaios de ataques aéreos não são incomuns. A sua história diz-lhes para estarem preparados.

Protestos contra o Talisman Sabre. A ameaça é simultânea. A Rússia é a primeira. A China é a seguir. Os EUA acabam de completar um enorme exercício militar com a Austrália conhecido como Talisman Sabre . Eles treinaram um bloqueio dos Estreitos de Malaca e do Mar do Sul da China, através dos quais passam as linha económicas vitais da China.

O almirante a comandar a frota estado-unidense do Pacífico disse que, "se necessário", ele atacaria a China com armas nucleares. Que ele dissesse tal coisa publicamente na actual atmosfera pérfida começa a tornar facto a ficção de Nevil Shute.

Nada disto é considerado notícia. Nenhuma ligação é feita quando se recorda o festim sangrento de Passchendaele um século atrás. A reportagem honesta já não é bem vinda na maior parte dos media. Pessoas enfatuadas, conhecidas como sabichonas, dominam: editores são administradores de info-entretenimento ou da linha do partido. Onde outrora havia edição, há agora o despejar de clichés para trituração. Aqueles jornalistas que não cumprem são defenestrados.

A urgência tem muitos antecedentes. No meu filme, The Coming War on China (A guerra vindoura à China), John Bordne, membro da equipe de combate de mísseis da US Air Force baseada em Okinawa, Japão, descreve como em 1962 – durante a crise cubana dos mísseis – foi dito a ele e aos seus colegas "para lançar todos os mísseis" a partir dos seus silos.

Armados com o nuclear, os mísseis destinavam-se tanto à China como à Rússia. Um oficial júnior questionou isto e a ordem acabou por ser revogada – mas só depois de terem sido emitidas com revólveres apontados e ordem para atirar numa equipe de míssil se eles não cumprissem.

Na altura da Guerra Fria, a histeria anti-comunista nos Estados Unidos era tal que responsáveis estado-unidenses que foram à China em negócios oficiais foram acusados de traição e despedidos. Em 1957 – o ano em que Shute escreveu On the Beach – nenhum responsável no Departamento de Estado podia falar a língua do país mais populoso do mundo. Falantes de mandariam eram expurgados sob restrições agora reflectidas na lei que o Congresso acabou de aprovar, destinada à Rússia.

A lei foi bipartidária. Não há diferença fundamental entre Democratas e Republicanos. Os termos "esquerda" e "direita" são sem significado. A maior parte das guerras modernas da América foram iniciadas não por conservadores mas sim por liberais democratas.

Quando Obama terminou o seu mandato havia presidido um recorde de sete guerras, incluindo a mais longa guerra da América, e uma campanha sem precedentes de mortes extrajudiciais – assassinatos – através de drones.

OBAMA: TRÊS BOMBAS POR HORA, 24 HORAS POR DIA

No seu último ano de mandato, segundo um estudo do Council on Foreign Relations, o "relutante guerreiro liberal", lançou 26.171 bombas – três bombas por hora, 24 horas por dia. Tendo prometido ajudar a "livrar o mundo" de armas nucleares, o laureado com o Prémio Nobel da Paz construiu mais ogivas nucleares do que qualquer outro presidente desde a Guerra Fria.

Trump é um fraco em comparação. Foi Obama – com a sua secretária de Estado Hillary Clinton ao lado – quem destruiu a Líbia como estado moderno e lançou a debandada humana para a Europa. Internamente, grupos de imigração conhecem-no como o "deportador em chefe".

Um dos últimos actos de Obama como presidente foi assinar uma lei que entrega um recorde de US$618 mil milhões ao Pentágono, reflectindo a ascendência crescente do militarismo fascista na governação dos Estados Unidos. Trump endossou isto.

Enterrado nos pormenores estava o estabelecimento de um "Centro para Análise de Informação e Resposta". Isto é um ministério da verdade. A sua tarefa é providenciar uma "narrativa oficial dos factos" que nos preparará para a possibilidade real da guerra nuclear – se nós o permitirmos.
04/Agosto/2017 
 
O original encontra-se em johnpilger.com/articles/on-the-beach-2017-the-beckoning-of-nuclear-war e em www.globalresearch.ca/on-the-beach-2017/5602709

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Publicação em destaque

Marionetas russas

por Serge Halimi A 9 de Fevereiro de 1950, no auge da Guerra Fria, um senador republicano ainda desconhecido exclama o seguinte: «Tenh...