segunda-feira, 17 de abril de 2017

Estará à vista o fim do mundo?


por Paul Craig Roberts 
 
USS Carl Vinson. A indiferença do mundo ocidental é extraordinária. Não são só os americanos que se permitem terem os cérebros lavados pela CNN, MSNBC, NPR, New York Times e Washington Post, são também os seus comparsas na Europa, Canadá, Austrália e Japão, que confiam na máquina da propaganda de guerra que se apresenta como media.
http://www.bbc.com/news/world-us-canada-39573526

Os "líderes" ocidentais, isto é, os fantoches na ponta dos cordéis puxados pelos grupos de interesses privados poderosos e pelo Estado Profundo, estão igualmente indiferentes. Trump e seus comparsas no Império Americano devem estar inconscientes de que estão a provocar guerra com a Rússia e a China, se não são psicopatas.

Um novo Louco da Casa Branca substituiu o velho louco. O Novo Louco enviou o seu secretário de Estado à Rússia. Para que? Para apresentar um ultimato? Para fazer mais acusações falsas? Para se desculpar pelas mentiras?

Missil balístico Pukkuksong2. Considerem a audácia do secretário de Estado Tillerson. Ele passou a semana anterior à sua visita a Moscovo a corroborar mentiras incríveis e alegações falsas de que Assad da Síria utilizou armas químicas com permissão da Rússia, o que justificava o inequívoco crime de guerra de Washington de um ataque militar a um país ao qual os EUA não declararam guerra. Com menos de 100 dias no gabinete Trump já é um criminoso de guerra, juntamente com o resto do seu governo belicista.

Todo o mundo sabe isto, mas ninguém diz. Ao invés disso, Tillerson, pejado de mentiras e ameaças, tem confiança para ir a Moscovo a fim de dizer aos russos que têm de entregar Assad ao poder único americano.

A missão de Tillerson demonstra a completa e total irrealidade do mundo em que vive Washington. Tente imaginar a arrogância de Tillerson. Se voce caluniou e ameaçou grosseiramente pessoas importantes, será que se sentiria confortável em ir às suas casas e jantar com elas? Pensará Tillerson que agora que a Rússia em grande medida libertou a Síria do ISIS apoiado pelos EUA, esta irá entregá-la a Washington?

Protestos na capital da Coreia do Sul contra o belicismo trumpiano. Será que vai contar a Lavrov que realmente não queria dizer todas aquelas mentiras sujas que disse acerca da Rússia, mas que neoconservadores sionistas o obrigaram a fazer? Que realmente não está no comando e é apenas uma ferramenta do Império Anglo-Sionista?

Será que Tillerson vai desculpar a declaração do secretário de imprensa da Casa Branca, Sean Spicer, de que Assad, aliado da Rússia, é mais perverso do que Hitler?
http://www.bbc.com/news/world-us-canada-39573063
Talvez Tillerson esteja em vias de pedir asilo e embarcar no lado vencedor.

Stephen Cohen, um dos poucos americanos restantes bem informados acerca da Rússia, disse a dois presstitutos da CNN e ao belicista Cor. Leightohn, um dos "peritos" a que os presstitutos recorrem para pronunciar a propaganda contra a Rússia, que a Rússia estava a preparar-se para a guerra quente. Isso pareceu ultrapassar as capacidades mentais dos presstitutos da CNN e do coronel. Em que folha de pagamento estão eles?
http://www.informationclearinghouse.info/46838.htm

Os líderes russos, os quais, ao contrário dos mentirosos do ocidente, falam a verdade, têm dito claramente que a Rússia nunca combaterá outra vez uma guerra no seu próprio território. Os russos não podiam dizer isto mais claramente. Provoquem uma guerra e nós os destruiremos no vosso próprio território.

Quando se observa o presidente e o governo em Washington, os governos europeus, especialmente os idiotas nos governos em Londres, canadiano e australiano, não se pode deixar de admirar a total estupidez da "liderança ocidental". Eles estão a implorar pelo fim do mundo.

E os presstitutos estão em acção conduzindo à extinção da vida. Números enormes de pessoas no ocidente estão a ser preparada para a sua morte – e elas são protegidas desta percepção pela sua indiferença.

Washington é tão arrogante e perdido no seu próprio orgulho que não entende que os anos de mentiras claras como cristal acerca da Rússia e das intenções e façanhas russas convenceram este país de que Washington está a preparar as populações dos Estados Unidos e os seus povos cativos no ocidente, Europa do Leste, Canadá, Austrália e Japão para um ataque nuclear preventivo dos EUA contra a Rússia. Planos de guerra publicados dos EUA contra a China convenceram-na do mesmo.

Se não é para a guerra, que outra coisa é a mudança na doutrina de guerra dos EUA? George W. Bush abandonou o papel estabilizador das armas nucleares passando-as de uma função retaliatória para a de um primeiro ataque nuclear. A seguir abandonou o tratado dos mísseis anti-balísticos concluído pelo presidente Richard Nixon. Agora temos sítios de mísseis estado-unidenses posicionados nas fronteiras da Rússia. Contámos aos russos a mentira de que os mísseis são para impedir um ataque nuclear iraniano com ICBMs contra a Europa. Esta mentira é dita, e aceite, pelos fantoches na Europa, apesar do facto incontestável de que o Irão não tem nem ogivas nem ICBMs. Mas os russos não aceitam isto. Eles sabem que isto é mais uma mentira de Washington.

Quando a Rússia ouve estas mentiras flagrantes, descaradas e óbvias, ela entende que Washington pretende um ataque nuclear preventivo à Rússia.

A China chegou à mesma conclusão.

Assim, eis a situação. Dois países com forças nucleares esperam que os loucos insanos que dominam o ocidente estejam em vias de atacá-los com armas nucleares. O que a Rússia e a China estão a fazer? Estão eles a implorar por misericórdia?

Não. Estão a preparar-se para destruir o perverso ocidente, uma colecção de mentirosos e criminosos de guerra, tais como o mundo nunca vira anteriormente.

A temerária e irresponsável conversa de guerra no governo dos EUA, nos media presstitutos e entre os vassalos da NATO e de Washington deve cessar imediatamente. A vida está por um fio.

Putin tem mostrado admirável paciência com as mentiras e provocações de Washington, mas não pode arriscar a Rússia confiando em Washington, em quem ninguém pode confiar. Nem o povo americano, nem o povo russo, nem qualquer povo.

Ao saltar para dentro do vagão de propaganda do Estado Profundo os liberais/progressistas/esquerda são cúmplices na marcha rumo ao fim do mundo.
12/Abril/2017 
 
O original encontra-se em http://www.paulcraigroberts.org/2017/04/12/is-that-armageddon-over-the-horizon/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Compreensão assustadora

por José Goulão

Quem acompanha há muito as desventuras da Síria na situação de principal rival militar de Israel, conhece o ror de histórias mal contadas e o arsenal de mentiras que distorcem o que se passa no país. Por isso, o problema das armas químicas é um assunto recorrente.

Donald Trump
Donald Trump Créditos / Agência Lusa

De Berlim a Bruxelas e Paris, de Atenas a Estocolmo, de Varsóvia a Lisboa perpassa uma comovente vaga de compreensão para com o até agora proscrito presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, por ter feito desabar mísseis sobre o território da Síria independente, ter destruído uns quantos adereços de uma base aérea e, sobretudo, ter assassinado um número indeterminado de civis, entre eles várias crianças.

Quando Trump proclamava, afinal mentindo, que desejava a paz na Síria e destruir o Daesh, juntamente com os outros alter ego do terrorismo dito de inspiração islâmica, o novo presidente norte-americano estava sob fogo cerrado dos aliados, que chegaram a pôr em causa a sua fidelidade à NATO.

Agora que Trump se acomodou à sábia mensagem do ministro português Santos Silva proferida em 22 de Março, em nome de todos os seus colegas da União Europeia, segundo a qual o exército sírio é pior que o Daesh, assiste-se ao regresso à normalidade. Isto é, os dirigentes políticos dos países da aliança repetem que não há solução militar para o problema sírio e, ao mesmo tempo, manifestam compreensão – se fosse com Obama ou com a senhora Clinton aplaudiriam sem reservas – pelos actos de guerra contra a Síria, mesmo que aqueçam ainda mais as costas dos mercenários assassinos do Daesh.

Parece contraditório? Não para as mentes privilegiadas de Santos Silva e colegas respectivos.

Tudo isto decorre das armas químicas que teriam sido usadas pelo exército sírio num recente ataque contra bases terroristas na província de Idlib, facto que está longe de provado e que, provavelmente, é uma deslavada mentira. Quem não se lembra da fábula das famosas e ainda desaparecidas armas de destruição massiva de Saddam Hussein?

As Nações Unidas e o seu secretário-geral nada fizeram para tirar este assunto de Idlib a limpo; limitaram-se a balbuciar qualquer coisa como a realização de um inquérito e, antes que tivessem a ousadia de passar à prática, Trump impôs a justiça do todo-poderoso complexo militar, industrial e tecnológico que nos governa. Foi assim, com algumas variantes para alívio das boas e inocentes consciências, no Afeganistão, no Iraque (em duas fases), na Líbia e mais alguns outros sítios, além de acontecer quotidianamente na Palestina.

Quem acompanha há muito as desventuras da Síria na situação de principal rival militar de Israel, conhece o ror de histórias mal contadas e o arsenal de mentiras que distorcem o que se passa no país. Por isso, o problema das armas químicas é um assunto recorrente.

O Eng. António Guterres tem em seu poder – e se não tem deveria procurá-lo no entulho da herança podre deixada pelo seu antecessor – um relatório de uma comissão independente chefiada pela jurista italiana Carla del Ponte, designada pela ONU, demonstrando, com toda a clareza, a posse de armas químicas e de produtos para as confeccionar pelos grupos de mercenários injectados na Síria.

Se ler o documento, de finais de 2012, o secretário-geral ficará a saber que os terroristas ditos islâmicos foram municiados e treinados para usar esse tipo de armamento na Turquia e na Jordânia, não directamente por países da NATO mas sim pelos seus famosos contractors, as empresas privadas de guerra em quem delegam os assuntos sujos, para surgirem de mãos limpas nos grandes areópagos comunicacionais.

Esta realidade, que o Eng. Guterres poderia ter a gentileza de partilhar com o seu ex-ministro Santos Silva, foi revelada através da própria CNN, em finais de 2012, pela jornalista Elise Labbott; a qual, como recompensa pelo excelente trabalho de investigação, foi relegada para dirigir um blogue.
Também o Daily Mail online divulgou as mesmas informações, retomando a iniciativa de Labott, em Janeiro de 2013. Algum tempo depois essas notícias desapareceram, confirmando que estamos numa sociedade onde prevalece a liberdade de imprensa.

Em Agosto de 2013, o relatório da comissão de Carla del Ponte foi tragicamente confirmado, através de um massacre nos arredores de Damasco, no qual a localidade síria de Goutha foi totalmente dizimada por armas químicas – pelo menos 150 pessoas morreram. Quem se lembrar do episódio saberá que o regime de Damasco foi imediatamente acusado da chacina, sem quaisquer provas nem inquéritos, pelo que Obama logo preparou os seus mísseis, tal como Trump fez agora. Mas o anterior presidente não chegou a dispará-los, para desespero da sua secretária de Estado Clinton, por saber que a verdadeira autoria do massacre pela al-Nusra, ou al-Qaida, não tardaria a ser desmascarada.

A Organização para a Proibição de Armas Químicas foi então envolvida no assunto, terá investigado a situação no terreno, confirmado a responsabilidade do grupo terrorista e tomado providências para destruição dos arsenais.

Que não terão sido as suficientes, em termos de futuro. Porque o episódio agora ocorrido terá resultado do facto de o exército sírio, num dos seus ataques contra os grupos terroristas, ter alvejado locais que estes usavam como paióis de armas químicas e produtos para as fabricar. Não há provas nem maneira de confrontar as versões em campo, mas o histórico da guerra imposta contra a Síria, a rogo de Israel e da NATO, deixa poucas dúvidas sobre o que aconteceu.

A reacção de Trump e a compreensão manifestada pelos seus aliados trazem um novo alento ao Daesh e aos terroristas «moderados», que viviam desesperados e desnorteados desde a estrondosa

Quem estiver atento notará nestes comportamentos da nova administração norte-americana o dedo do recém-entronizado conselheiro de segurança nacional de Trump, o tenente general Herbert Raymond McMaster, conhecido como o «académico guerreiro». Foi o escolhido pelo establishment para suceder a Michael Flynn e Steve Bannon, despedidos dos cargos de conselheiros do presidente na sequência de conspirações de bastidores animadas por figuras associadas à política externa belicista da anterior administração.

Flynn e Bannon, defensores da procura de soluções políticas para problemas militares, foram acusados de agir como toupeiras de Putin, manobra em que desempenhou papel principal, mas sombrio, o vice-presidente Mike Pence, expoente dos falcões neoconservadores.

Rodeado agora por uma corte de guerreiros expurgada de quaisquer pombas transviadas, a figura de Trump surge com pleno fulgor, associando a sua idiossincrasia irresponsável, autoritária e arbitrária aos hábitos de guerra enraizados em Washington.

Tudo volta à normalidade.

Os aliados podem dormir descansados.

O mundo deve sentir-se ainda mais ameaçado.

aqui:http://www.abrilabril.pt/compreensao-assustadora

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Coreia do Norte: O grande embuste revelado


por Christopher Black [*]
 
Manifestações contra o THAAD nos EUA e na Coreia do Sul. Em 2003, com alguns advogados americanos, membros da Associação Nacional de Advogados, tive a oportunidade de viajar na Coreia do Norte, isto é, na República Popular Democrática da Coreia (RPDC), a fim de ter uma experiência em primeira mão desse país, do seu governo socialista e do seu povo.

Publicado no nosso retorno, este artigo foi intitulado "O grande embuste revelado". O título foi escolhido porque descobrimos que o mito pejorativo da propaganda ocidental sobre a Coreia do Norte é um enorme embuste concebido para esconder as realizações dos norte-coreanos, que conseguiram criar suas próprias condições de desenvolvimento, o seu próprio sistema socioeconómico independente, baseado nos princípios do socialismo, livre do domínio das potências ocidentais.

Durante um dos nossos primeiros jantares em Pyongyang, o nosso anfitrião, Ri Myong Kuk, um advogado, disse em termos apaixonados, em nome do governo, que a força de dissuasão nuclear da RPDC é necessária dadas as ações e ameaças dos EUA e aliados contra o seu país. Ele disse-o, e foi-me repetido mais tarde durante a minha viagem, numa reunião de alto nível com representantes do governo da RPDC, que se os americanos assinassem um tratado de paz e um acordo de não-agressão com a RPDC, isso tornaria a ocupação ilegítima e levaria à reunificação da Coreia. Assim, não haveria mais necessidade de armas nucleares. Com sinceridade disse: "é importante que os advogados se reúnam para falar sobre isto, porque os advogados regulam as interações sociais no seio da sociedade e do mundo" e acrescentou que de boa-fé, "o caminho para a paz requer a abertura do coração".

Pareceu-nos então, e é agora evidente, que, em absoluta contradição com o que dizem os meios de comunicação ocidentais, o povo da RPDC quer paz mais do que qualquer outra coisa. Ele quer continuar com as suas vidas e ocupações sem a ameaça constante de ser exterminado pelas armas atómicas dos EUA. Mas, na verdade, por que são ameaçados de serem exterminados e de quem é a culpa? Não é a sua.

Mostraram-nos documentos dos EUA apreendidos durante a guerra da Coreia. Trata-se de provas irrefutáveis que a UE tinha planeado atacar a Coreia do Norte em 1950. O ataque foi realizado pelas forças armadas dos EUA e da Coreia do Sul, ajudadas por oficiais do exército japonês, que tinham invadido e ocupado Coreia anteriormente durante décadas. Os EUA pretenderam então que a defesa e o contra ataque eram uma "agressão", os media foram manipulados para incentivar as Nações Unidas a apoiar uma "operação policial", eufemismo escolhido para descrever a sua guerra de agressão contra a Coreia do Norte. Isso resultou em três anos de guerra e 3,5 milhões de vítimas coreanas. Desde então, os EUA ameaçam de guerra iminente e aniquilação.

Em 1950, uma vez que a Rússia não estava presente no Conselho de Segurança, a votação das Nações Unidas a favor da "operação policial" foi ela própria ilegal. Ao abrigo dos regulamentos internos, o quórum no Conselho de Segurança exige a presença de todas as delegações membros. Todos os membros devem estar presentes, caso contrário não pode se realizar a sessão. Os americanos aproveitaram a ocasião do boicote dos russos ao Conselho de Segurança, introduzido para defender a posição da República Popular da China, que deveria ter lugar à mesa do Conselho de Segurança e não o governo derrotado do Kuomintang. Como os americanos se recusaram a conceder esse direito, os russos recusaram sentar-se à mesa até que o governo chinês legítimo o pudesse fazer.

Os americanos aproveitaram esta oportunidade para fazer uma espécie de golpe de estado nas Nações Unidas. Tomando o controlo dos seus mecanismos, utilizaram-nos para os seus próprios interesses. Organizaram-se com os britânicos, os franceses e os chineses do Kuomintang, para apoiar a guerra na Coreia, na ausência dos russos. Os aliados, como os americanos lhes tinham pedido, votaram a favor da guerra contra a Coreia, mas a votação foi inválida e a operação da polícia não foi uma operação de manutenção da paz, nem justificada pelo capítulo VII da carta das Nações Unidas, dado que o artigo 51, estipula que as nações têm o direito de se defender contra qualquer ataque armado – justamente o que tinham de fazer os norte coreanos. Mas os EUA nunca se preocuparam muito com a legalidade. E não se preocuparam em todo o seu projeto, que era conquistar e ocupar a Coreia do Norte, como um passo para invadir a Manchúria e a Sibéria e a legalidade não ia impedi-los de prosseguir esse caminho.

Muitos ocidentais não têm ideia das destruições infligidas pelos americanos e seus aliados na Coreia. Pyongyang encontrou-se sob um tapete de bombas, civis fugindo à carnificina foram metralhados pelos aviões dos EUA em voos rasantes. O New-York Times escreveu na altura que 17 milhões de toneladas de napalm foram lançadas apenas durante os 20 primeiros meses da guerra na Coreia. Os EUA deixaram cair uma tonelagem de bombas mais importante sobre a Coreia do que sobre o Japão durante a Segunda Guerra Mundial. As forças armadas dos EUA assassinaram não apenas os membros do partido comunista, mas também as suas famílias. Em Sinchon, vimos evidências que soldados dos EUA obrigaram 500 civis a colocar-se numa vala, regaram-nos com gasolina e queimaram-nos. Estivemos num abrigo com paredes ainda enegrecidos com a carne queimada de 900 civis, incluindo mulheres e crianças que procuravam proteger-se durante um ataque dos EUA. Soldados americanos foram vistos despejar gasolina em aberturas de ventilação do abrigo e fazê-los morrer carbonizados. Esta é a realidade da ocupação dos EUA para os coreanos. É a realidade que eles ainda temem e não querem mais ver repetida. Podemos censurá-los?

Apesar de todos estes casos, os coreanos estão dispostos a abrir seus corações para seus antigos inimigos. O major Kim Myong Hwan, que na época era o principal negociador em Panmunjom, na linha da DMZ, revelou que seu sonho era ser escritor, poeta, jornalista, mas contou com ar sombrio, como ele e seus cinco irmãos estavam fazendo rondas na linha da zona desmilitarizada, como os soldados, por causa do que aconteceu à sua família. Ele disse que sua luta não era contra os americanos, mas o seu governo. Manteve-se o único de sua família perdida em Sinchon; seu avô tinha sido pendurado num poste e torturado, a avó dele morreu com uma baioneta no estômago. "Veja, nós temos de o fazer. Temos de nos defender. Nós não nos opomos aos norte-americanos. Somos contra a política dos EUA e os seus esforços para controlar totalmente o mundo e infligir calamidades aos povos."

A opinião da nossa delegação foi que devido à instabilidade que mantêm na Ásia, os EUA conservam uma presença militar maciça que dificulta as relações entre a China e a Coreia do Sul, a Coreia do Norte e o Japão. Usam sua presença como moeda de troca contra a China e a Rússia. Com a constante pressão no Japão para eliminar as bases dos EUA em Okinawa, as operações militares na Coreia e as manobras de guerra são um aspecto central dos seus esforços visando dominar a região.

A questão não é saber se a RPDC tem armas nucleares, como tem o direito, mas se os EUA – que têm capacidades nucleares na península coreana, e que ali instalam atualmente o seu sistema de defesa antimísseis THADD, um sistema que ameaça a segurança da Rússia e da China – estão dispostos a trabalhar com a Coreia do Norte num tratado de paz. Encontrámos norte-coreanos ansiosos pela paz e não fazendo questão em manter armas nucleares se a paz puder ser estabelecida. Mas a posição dos EUA continua mais arrogante, agressiva, ameaçadora e perigosa do que nunca.

Na época das "mudança de regime'", das "guerras preventivas" e das tentativas dos EUA para desenvolver armas nucleares miniatura, bem como o seu abandono e a sua manipulação do direito internacional, não é surpreendente que a Coreia do Norte, jogue a carta nuclear. Esta escolha foi feita pelos coreanos do Norte desde que os EUA os ameaçam numa base diária com uma guerra nuclear. A Rússia e a China, dois países que a lógica dita apoiar os norte-coreanos contra a agressão norte-americana, juntar-se-ão aos norte-americanos para responsabilizar os coreanos por se terem armado com a única arma que pode atuar como dissuasor de um ataque.

A razão para isto não está clara, uma vez que os russos e os chineses têm armas nucleares e estão equipados para dissuadir qualquer ataque dos EUA, exatamente como fez a Coreia do Norte. Algumas declarações dos governos russo e chinês indicam que eles temem não ter controlo da situação, e que as medidas defensivas da Coreia do Norte atraiam um ataque dos EUA e de serem também atacados.

Essa ansiedade é compreensível. Mas isso levanta a questão de saber por que não podem apoiar o direito da Coreia do Norte à autodefesa e exercer pressão sobre os americanos para concluírem um tratado de paz, um acordo de não-agressão e retirar sua forças armadas e nucleares da Península coreana. Mas a grande tragédia é a óbvia incapacidade dos norte-americanos em pensarem por si próprios perante os embustes incessantes e exigir dos seus líderes que sejam esgotados todos os canais de diálogo e restabelecida a paz antes de encarar uma agressão na península coreana.

A base essencial da política da Coreia do Norte é alcançar um pacto de não-agressão e um Tratado de paz com os EUA. Os norte-coreanos afirmaram repetidamente que não querem atacar ninguém, nem ferir ninguém, não estão em guerra contra ninguém. Mas eles viram o que aconteceu com a Jugoslávia, o Afeganistão, o Iraque, a Líbia, a Síria e inúmeros outros países, e não têm intenção de serem os próximos. É óbvio que vão defender-se vigorosamente contra qualquer invasão dos EUA e que a nação poderia suportar uma longa e difícil luta.

Num outro lugar da zona desmilitarizada, conhecemos um coronel que tinha instalado um par de binóculos, através do qual conseguimos ver para além da linha divisória entre o norte e o sul. Podemos ver uma parede de cimento construída no lado do Sul, em violação dos acordos de tréguas. O major Kim Myong Hwan disse que aquela estrutura fixa é uma "vergonha para os coreanos que são um povo homogéneo. Um alto-falante transmitia sem interrupção propaganda e música que vinha de alto-falantes do lado sul. Ele disse que esse barulho irritante dura 22 horas por dia. De repente, outro momento surreal, os alto-falantes do bunker começaram a entoar a Abertura Guilherme Tell de Rossini, mais conhecida nos Estados Unidos como o tema do Lone Ranger .

O coronel pediu-nos para ajudar as pessoas a entender o que realmente está a acontecer na Coreia do Norte, em vez de basearem as suas opiniõrs na desinformação. Disse: "Nós sabemos que, como nós, as pessoas amantes da paz na América têm crianças, parentes, famílias". Dissemos-lhe que tínhamos a missão de ir para casa com uma mensagem de paz e esperamos voltar um dia e andar com ele livremente nestas belas colinas. Fez uma pausa e disse: "Também creio que é possível".

Assim, enquanto o povo da Coreia do Norte espera a paz e a segurança os EUA e seu fantoche no sul da península coreana farão a guerra ocupando-se durante os próximos três meses nos maiores jogos de guerra até agora organizados, com porta-aviões, submarinos carregados de armas atómicas e bombardeiros furtivos, aviões e um grande número de tropas, artilharia e tanques.

A campanha de propaganda atingiu níveis perigosos nos meios de comunicação, que acusam o Norte de ter assassinado um parente do líder da Coreia do Norte na Malásia, ainda que não haja provas e que o Norte não tivesse nenhum motivo para o fazer. Os únicos a beneficiar do assassinato são os EUA e os seus meios de comunicação controlados, que usam isso para atiçar a histeria contra Coreia do Norte, que agora teria armas químicas de destruição em massa.

Sim, meus amigos, eles pensam que todos nós nascemos ontem e que não aprendemos nada sobre a natureza do domínio doa EUA e da sua propaganda. Será assim tão espantoso que os norte-coreanos temam que estes 'jogos' de guerra se transformem um dia em realidade e que estes "jogos" não sejam senão a cobertura para um ataque e para criar ao mesmo tempo um clima de terror na população, coreana?

Haveria muitas coisas a dizer sobre a natureza real da RPDC, seus habitantes, seu sistema socioeconómico e sua cultura. Mas não há espaço para isso agora neste texto. Espero que as pessoas sejam capazes de dar-se conta por si próprias da experiência do nosso grupo. Termino com o último parágrafo do relatório comum que fizemos no retorno da RPDC, e espero que as pessoas o compreendam bem, reflitam e ajam de forma a apelar à paz.

"Aos povos do mundo tem de ser divulgada a história completa acerca do que se passou na Coreia e o papel do nosso governo fomentando desequilíbrios e conflitos. Devem ser tomadas medidas pelos advogados, grupos comunitários e ativistas pela paz e todos os cidadãos do planeta, para impedir o governo dos EUA de levar a cabo uma campanha de propaganda visando apoiar a agressão contra a Coreia do Norte. Os norte-americanos têm sido alvo de um grande embuste. O que está em jogo é muito importante para nos permitimos ser enganados novamente. Esta delegação de paz aprendeu na Coreia do Norte, um elemento importante da verdade essencial nas relações internacionais. É que só com ampla comunicação e negociação, seguida do respeito pelas promessas e profundo compromisso com a paz, se pode – literalmente – poupar o mundo a um sombrio futuro nuclear. A experiência e a verdade nos libertarão da ameaça de guerra. A nossa viagem à Coreia do Norte, este relatório e nosso projeto atual são esforços para nos libertarmos". 

Ver também:

  • www.zoominkorea.org

    [*] Advogado especialista em direito penal internacional, com escritório em Toronto. É conhecido pelos casos de crimes de guerra mediatizados que analisou. Publicou recentemente o romance Beneath the Clouds . Escreve ensaios sobre direito internacional, política e acontecimentos mundiais.

    A versão em francês encontra-se em www.legrandsoir.info/coree-du-nord-la-grande-tromperie.html
    e o original em journal-neo.org/2017/03/13/north-korea-the-grand-deception-revealed/


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .  
  • quinta-feira, 6 de abril de 2017

    Destruir o Daesh (EI)?

    por Thierry Meyssan

     Enquanto Washington multiplica os sinais confirmando a sua intenção de destruir o Daesh(E.I.), os Britânicos e os Franceses, seguidos pelo conjunto dos Europeus encaram pôr-se à parte. Londres e Paris teriam coordenado os ataques a Damasco e a Hama para forçar o Exército Árabe Sírio a ir socorrê-las e, assim, diminuir o seu avanço em direcção aos arredores de Rakka. Os Europeus pensam organizar a fuga dos jiadistas pela fronteira turca.


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    A reunião da Coligação (Coalizão-br) anti-Daesh em Washington, a 22-23 de Março, correu bastante mal. Se na aparência os 68 membros reafirmaram a sua vontade de lutar contra esta organização, na realidade ostentaram as suas divisões.

    O Secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson lembrou o compromisso do Presidente Trump perante o Congresso de destruir o Daesh (EI) e não apenas o enfraquecer, tal como afirmava a Administração Obama. Ao fazê-lo, ele acabou com os argumentos dos membros da Coligação perante o facto consumado.

    Primeiro problema: como é que os Europeus em geral, e os Britânicos em particular, poderão salvar os seus jiadistas, se não se trata mais de os poder deslocar, mas antes de os suprimir de vez ?

    Rex Tillerson, e o Primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, fizeram um balanço quanto à batalha de Mossul. Apesar da expressão pública de optimismo, é evidente para todos os peritos militares que ela não estará concluída antes de três longos muitos meses. Porque em Mossul, todas as famílias, ou quase todas têm um dos seus membros envolvido com o Daesh (EI).

    No plano militar, a situação de Rakka é muito mais simples. Lá, os jiadistas são estrangeiros. Portanto, prioritariamente convêm cortar o seu aprovisionamento. Depois, então, separá-los da população síria.

    Segundo problema: o Exército dos Estados Unidos tem de obter previamente a autorização do Congresso, depois a de Damasco, para se colocar no território sírio. Os Generais James Mattis (Secretário da Defesa) e John Dunford (Chefe do Estado-Maior Conjunto) tentaram convencer os parlamentares, mas não está fácil. Depois será preciso negociar com Damasco e, portanto, esclarecer o que irá ser feito.

    À pergunta dos Europeus sobre o que Washington faria com Rakka libertada, Rex Tillerson estranhamente respondeu que iria fazer regressar a população deslocada, ou refugiada, para lá. Os Europeus concluíram que sendo esta população esmagadoramente favorável a Damasco, Washington tinha a intenção de restituir este território à República Árabe Síria.

    Tomando a palavra, o Ministro do Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br) Português, Augusto Santos Silva, salientou que a proposta ia contra o que havia sido decidido anteriormente. Os Europeus têm o dever moral, sublinhou ele, de prosseguir os seus esforços de protecção dos refugiados que fugiram da «ditadura sanguinária». Ora, mesmo libertada(liberada-br), Rakka não seria uma zona segura, por causa da presença do Exército Árabe Sírio que seria "pior que o Daesh".

    A escolha de Portugal pelos europeus para esta intervenção não é inocente. O antigo Primeiro-ministro Português, do qual Santos Silva foi ministro, António Guterres, é o antigo Alto Comissário para os Refugiados e actual Secretário-Geral da ONU. Ele já havia sido também Presidente da Internacional Socialista, uma organização totalmente controlada por Hillary Clinton e Madeleine Albright. Em resumo, ele é hoje em dia a nova fachada de Jeffrey Feltman na ONU e do clã belicista.

    Terceiro problema: libertar Rakka do Daesh (EI) muito bem, mas, segundo os Europeus, não para a restituir a Damasco. Daí a sobranceria Francesa.

    De imediato, se viu os jiadistas de Jobar atacar o centro da capital e os de Hama atacar as aldeias isoladas. Talvez se trate de uma tentativa desesperada da parte deles de obter um prêmio de consolação em Astana ou em Genebra antes do fim da partida. Talvez se trate de uma estratégia coordenada por Londres com Paris.

    Neste caso, deveremos esperar uma vasta operação das potências coloniais em Rakka. Londres e Paris poderiam atacar a cidade antes que ela fosse cercada de modo a forçar o Daesh (EI) a mover-se e assim o salvar. O Daesh poderia recuar para a fronteira turca, ou até mesmo para a Turquia. A organização iria então assumir-se como o carrasco dos Curdos por conta de Recep Tayyip Erdoğan.


    Tradução
    Alva
    Fonte
    Al-Watan (Síria)

    aqui:http://www.voltairenet.org/article195852.html

    terça-feira, 4 de abril de 2017

    A Casa Branca converte-se à democracia

    por Thierry Meyssan

     Um passo considerável acaba de ser dado pela Administração Trump : os seus diplomatas mais destacados anunciaram reconhecer o direito dos Sírios à Democracia. Admitem que eles soberanamente escolheram Bachar el-Assad como Presidente. Acaba, assim, a retórica da «democratização» forçada que acompanhou todas as aventuras militares das administrações precedentes.


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    Nikki Haley
    Lentamente a Administração Trump coloca em acção a sua nova política para o Próximo-Oriente.

    Depois de ter reformado o Conselho de Segurança Nacional, depois de ter trocado informações com o exército russo, depois de ter interdito aos seus homens continuar a apoiar os jiadistas onde quer que seja, e após ter lançado verdadeiros ataques contra eles no Iémene, no Iraque, na Líbia e na Somália, o novo Presidente dos Estados Unidos fez anunciar que punha um final à ingerência do seu país na vida política síria.

    A embaixatriz dos EUA no Conselho de Segurança, Nikki Haley, não se limitou a anunciar que o derrube do Presidente al-Assad não mais era «uma prioridade» para Washington, ela afirmou claramente que apenas o Povo sírio tinha o direito de escolher o seu presidente; afirmações imediatamente confirmadas pelo Secretário de Estado, Rex Tillerson.

    Para medir o caminho percorrido, lembremos que desde 2012 o plano Feltman previa a revogação da soberania do Povo sírio.

    Vamos repetir : com Donald Trump, a Casa Branca finalmente converteu-se à Democracia, ou seja, ao «Governo do Povo pelo Povo, para o Povo» de acordo com a famosa fórmula de Abraham Lincoln. Os Estados Unidos estão em vias de se tornar uma potência normal. Eles abandonam a sua ambição imperialista. Eles renunciam à doutrina Wolfowitz de domínio global. Eles reconhecem, de novo, que todos os homens são iguais, sejam eles ocidentais ou não.

    A estupefacção dos Estados membros da OTAN está à altura do acontecimento : como eles não param desde o 11-de-Setembro de utilizar o conceito de «democracia» a contra-senso, ficaram sem palavras.

    Por fim, o Ministro Francês dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br), Jean-Marc Ayrault, declarou : «Será que mantemos Assad ou não mantemos Assad, não é assim que a questão se põe. A questão é a de saber se a comunidade internacional respeita os seus próprios compromissos».
    Tradução: a questão não é saber o que querem os Sírios, mas se os Estados Unidos e os seus aliados (os «Amigos da Síria») vão respeitar ou não a promessa da Administração Obama de restaurar um mandato francês sobre a Síria.

    Para a equipe de François Hollande, uma má notícia nunca vem só e Ancara foi a primeira a abandonar Paris. Ela declarou que, na sequência da visita de Rex Tillerson, renunciava a criar uma «zona de segurança» em Manbij e Rakka; uma maneira elegante de anunciar que admite não poder estender na Síria a ocupação que ilegalmente leva a cabo em Chipre desde 1974. Terminada, portanto, a aliança franco-turca.

    Seja como for, o retorno da OTAN ao Direito Internacional começou. Ela junta-se à posição da Síria, que a defende com o seu sangue, e à da Rússia e da China que a protegeram com sete vetos sucessivos no Conselho de Segurança.

    A próxima etapa é aquela já expressava a Síria em julho de 2012: convencer toda a Organização do Atlântico Norte a cessar de manipular o terrorismo internacional. Quer dizer, admitir que os actuais Irmãos Muçulmanos não são uma irmandade árabe, mas, antes constituem um ramo dos Serviços Secretos britânicos; e reconhecer que eles não são muçulmanos, mas que se disfarçam por trás do Alcorão para melhor fazer avançar o imperialismo anglo-israelita.

    Tradução
    Alva
    Fonte
    Al-Watan (Síria)

    aqui:http://www.voltairenet.org/article195861.html

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