domingo, 24 de abril de 2016

Trump e Clinton: Censurando o intragável


por John Pilger 
 
A rainha do caos. Uma censura virulenta, ainda que familiar, está prestes a abater-se sobre a campanha eleitoral estado-unidense. Como o selvagem caricato, Donald Trump, parece quase certo que ganhe a nomeação do Partido Republicano, Hillary Clinton está a ser consagrada como a "candidata das mulheres" e a campeã do liberalismo americano na sua luta heróica contra Satã.

Isto é disparate, naturalmente. Hillary Clinton deixa um rastro de sangue e sofrimento por todo o mundo e um recorde claro de exploração e cobiça no seu próprio país. Dizer isto, no entanto, está a tornar-se intolerável na terra da liberdade de expressão.

A campanha presidencial de Barack Obama em 2008 deveria ter alertado até o observador mais desatento. Obama baseou sua campanha da "esperança" quase totalmente no facto de um afro-americano aspirar dirigir a terra da escravidão. Ele também era "anti-guerra".

Obama nunca foi anti-guerra. Ao contrário, como todos os presidentes americanos, era a favor da guerra. Ele votou pelo financiamento da carnificina de George W. Bush no Iraque e planeava escalar a invasão do Afeganistão. Nas semanas em que fez o juramento presidencial, aprovou secretamente um assalto israelense a Gaza, o massacre conhecido como Operação Chumbo Derretido. Prometeu encerrar o campo de concentração de Guantanamo e não o fez. Jurou que ajudaria a tornar o mundo "livre de armas nucleares" e fez o oposto.

Como uma nova espécie de gestor de marketing do status quo, o untuoso Obama foi uma escolha inspirada. Mesmo no fim da sua presidência coalhada de sangue, com a sua assinatura para drones a propagarem infinitamente mais terror e morte em todo o mundo do que o desencadeado por jihadistas em Paris e Bruxelas, Obama é bajulado como um "tipo fixe" (the Guardian).

Em 23 de Março, a Counterpunch publicou meu artigo " Uma guerra mundial começou – rompa o silêncio " . Como tem sido minha prática durante anos, difundi então esta peça através de uma rede internacional, incluindo Truthout.com, o sítio web liberal americano. Truthout publica algum jornalismo importante, inclusive excelentes revelações de Dahr Jamail.

Truthout rejeitou a [minha] peça porque, disse um editor, ela havia aparecido no Counterpunh e havia quebrado "linhas de orientação". Respondi que isto nunca fora um problema ao longo de muitos anos e que nada sabia de linhas de orientação.

À minha recalcitrância foi então atribuído um outro significado. O artigo seria libertado desde que eu o submetesse a uma "revisão" e concordasse com mudanças e apagamentos feitos pelo "comité editorial" de Truthout. O resultado foi adoçar e censurar minha crítica a Hillary Clinton e o distanciamento dela em relação a Trump. Foi cortado o seguinte:
Trump nos media é uma figura odiosa. Isto só por si deveria despertar nosso cepticismo. As visões de Trump sobre migração são grotescas, mas não mais grotescas do que as de David Cameron. Não é Trump o Grande Deportador dos Estados Unidos, mas sim o vencedor do Prémio Nobel da Paz Barack Obama ... O perigo para todos nós não é Trump, mas Hillary Clinton. Ela não é independente (maverick). Ela corporifica a resiliência e violência de um sistema... Quando o dia da eleição presidencial se aproximar, Clinton será louvada como a primeira mulher presidente, apesar dos seus crimes e mentiras – tal como Barack Obama foi louvado como o primeiro presidente negro e liberais engoliram sua insensatez acerca de "esperança".
O "comité editorial" quis claramente diluir minha argumentação de que Clinton representa um comprovado perigo extremo para o mundo. Como toda censura, isto era inaceitável. Maya Schenwar, que dirige o Truthout, escreveu-me [a dizer] que minha relutância em submeter meu trabalho a um "processo de revisão" significava que ela tinha de retirar a sua "publicação da agenda". Este é o modo de falar do guardião (gatekeeper).

Na raiz deste episódio está uma resistência indizível. Esta é a necessidade, a compulsão, de muitos liberais nos Estados Unidos a aceitar um líder a partir de dentro de um sistema que é comprovadamente imperial e violento. Tal como a "esperança" de Obama, o género de Clinton não é mais do que uma fachada conveniente.

Isto é uma compulsão histórica. No seu ensaio de 1859, Sobre a liberdade, ao qual liberais modernos parecem prestar homenagem incansável, John Stuart Mill descreveu o poder do império. "Despotismo é um modo legítimo de governo ao tratar com bárbaros", escreveu ele, "desde que a finalidade seja a sua melhoria e os meios justificados para realmente cumprir aquele fim". Os "bárbaros" eram grandes secções da humanidade às quais era exigida "obediência implícita".

"É um mito lindo e conveniente que os liberais são pacificadores e o conservadores belicistas", escreveu em 2001 o historiador britânico Hywel Williams, "mas o imperialismo do modo liberal pode ser mais perigoso por causa da sua natureza ilimitada – sua convicção de que representa uma forma de vida superior [enquanto nega a dos outros] conduz ao fanatismo farisaico". Ele tinha em mente um discurso de Tony Blair na sequência dos ataques de 11/Set, no qual Blair prometia "reordenar este mundo em torno de nos" de acordo com o seus "valores morais". O resultado foi a carnificina de um milhão de mortos no Iraque.

Os crimes de Blair não são inabituais. Desde 1945, uns 69 países – mais de um terço dos membros das Nações Unidas – sofreram alguns ou todos dos seguintes males. Foram invadidos, seus governos derrubados, seus movimentos populares suprimidos, suas eleições subvertidas e seus povos bombardeados. O historiador Mark Curtis estima a portagem da morte em milhões. Com a morte dos impérios europeus, este tem sido o projecto do liberal transportador de chamas, o "excepcional" Estados Unidos, cujo celebrado presidente "progressista", John F. Kennedy, segundo nova investigação, autorizou o bombardeamento de Moscovo durante a crise cubana em 1962.

"Se temos de utilizar força", disse Madeleine Albright, secretária de Estado dos EUA na administração liberal de Bill Clinton e hoje uma apaixonada activista de campanha pela sua esposa, "é porque nós somos a América. Nós somos a nação indispensável. Nós encaramos de frente. Nós vemos mais longe no futuro".

Um dos mais horrendos crimes de Hillary Clinton foi a destruição da Líbia em 2011. Por sua insistência, e com apoio logístico americano, a NATO, lançou 9.700 "incursões de ataque" contra a Líbia, segundo seus próprios registos, dos quais mais de um terço foram destinados a alvos civis. Elas incluíam mísseis com ogivas de urânio. Ver as fotografias das ruínas de Misurata e Sirte, e as sepulturas em massa identificadas pela Cruz Vermelha. Ler o relatório da UNICEF sobre as crianças mortas, "a maior parte [delas] com menos de dez anos".

No mundo académico anglo-americano, seguido servilmente pelos media liberais de ambos os lados do Atlântico, teóricos influentes conhecidos como "realistas liberais" têm desde há muito ensinado que imperialistas liberais – uma expressão que eles nunca utilizaram – são o mediadores da paz mundial e administradores de crises, ao invés de causa de crises. Eles evacuaram a humanidade do estudo das nações e congelaram-na com um jargão que serve o poder belicista. Preparando todas as nações para a autópsia, identificaram "estados fracassados" (países difíceis de explorar) e "estados vilões" (países resistentes à dominação ocidental).

Se o regime alvo é ou não uma democracia ou ditadura é irrelevante. No Médio Oriente, colaboradores do liberalismo ocidental desde há muito têm extremistas islâmicos, ultimamente a al-Qaeda, ao passo que noções cínicas de democracia e direitos humanos servem como cobertura retórica para a conquista e a destruição – como no Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria, Iémen, Haiti, Honduras. Ver o cadastro público destes bons liberais Bill e Hillary Clinton. O cadastro deles é um padrão ao qual Trump mal pode ambicionar.
29/Março/2016 
 
Ver também:

  • Why is the Progressive Left Helping the Elite Elect Hillary? , Paul Craig Roberts

    O original encontra-se em johnpilger.com/articles/trump-and-clinton-censoring-the-unpalatable


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • quarta-feira, 20 de abril de 2016

    Escalada nuclear na Europa

    por Manlio Dinucci


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    A Casa Branca está « preocupada » porque caças russos sobrevoaram de perto um navio estadunidense no Mar Báltico. Assim informam as agências noticiosas. Sem dizer, entretanto, de que navio se trata e por que estava no Mar Báltico.

    Trata-se do USS Donald Cook, um dos navios dentre as quatro unidades lança-míseis deslocados pela Marinha dos EUA para a « defesa de mísseis da Otan à Europa ». Essas unidades, que serão aumentadas, são dotadas de radar Aegis e de mísseis interceptadores SM-3, mas ao mesmo tempo de mísseis de cruzeiro Tomahawk de dupla capacidade convencional e nuclear. Em outros termos, são unidades de ataque nuclear, dotadas de um « escudo » destinado a neutralizar a resposta inimiga.

    O Donald Cook, partindo em 11 de abril do porto polonês de Gdynia, cruzou por dois dias a apenas 70 quilômetros da base naval russa de Kaliningrado, e por essa razão foi sobrevoado pelos caças e helicópteros russos. Além dos navios lança-mísseis, o « escudo » EUA/Otan na Europa inclui, na sua conformação atual, um radar « na base avançada » da Turquia, uma bateria de mísseis terrestres estadunidenses na Romênia, composta de 24 mísseis SM-3, e uma outra análoga que será instalada na Polônia.

    Moscou adverte : essas baterias terrestres, tendo capacidade de lançar também mísseis nucleares Tomahawk, constituem uma evidente violação do Tratado INF, que proíbe o deslocamento para a Europa de mísseis nucleares de médio porte.

    Que fariam os Estados Unidos – que acusam a Rússia de provocar com os sobrevoos « uma escalada inútil de tensões» – se a Rússia enviasse unidades lança-mísseis ao longo das costas estadunidenses e instalasse baterias de mísseis em Cuba e no México?

    Ninguém pergunta sobre isso na grande mídia, que continua a mistificar a realidade. Última novidade escondida : a transferência de F-22 Raptors, os mais avançados dos caças bombardeiros estadunidenses de ataque nuclear, da base de Tyndall na Flórida à de Lakenheath na Inglaterra, anunciada em 11 de abril pelo Comando europeu dos Estados Unidos. Da Inglaterra os F-22 Raptors serão « deslocados para outras bases da Otan, em posição avançada para maximizar as possibilidades de treinamento e exercer uma dissuasão em face de qualquer ação que desestabilize a segurança europeia ».

    Trata-se da preparação para o iminente deslocamento para a Europa, incluindo a Itália, das novas bombas nucleares estadunidenses B61-12 que, lançadas a cerca de 100 quilômetros de distância, atingem o objetivo com uma ogiva « de quatro opções de potência selecionáveis ». Esta nova arma entra no programa de potencialização das forças nucleares, lançado pela administração Obama, que prevê entre outras coisas a construção de 12 submarinos de ataque suplementares (7 bilhões de dólares a unidade, estando o primeiro já em canteiro de obras), cada um armado com 200 ogivas nucleares.



    O New York Times informa [1] que está em curso o desenvolvimento de um novo tipo de ogiva nuclear, o « veículo flutuante hipersônico » que, ao retornar à atmosfera, manobra para evitar os mísseis interceptadores, dirigindo-se para o objetivo a mais de 27 mil quilômetros por hora. A Rússia e a China seguem, desenvolvendo armas análogas.

    Durante esse tempo, Washington colhe os frutos. Tranformando a Europa em primeira linha do confronto nuclear, sabota (com a ajuda dos próprios governos europeus) as relações econômicas entre a União Europeia (UE) e a Rússia, com o objetivo de ligar indissoluvelmente a UE aos EUA por intermédio do TIP. Impulsiona ao mesmo tempo os aliados europeus a aumentar a despesa militar, para lucro das indústrias bélicas estadunidenses cujas exportações aumentaram 60% nos últimos cinco anos, tornando-se o mais forte setor das exportações estadunidenses.

    Quem disse que a guerra não paga ?


    Tradução
    José Reinaldo Carvalho
    Editor do site Resistência
    [1] “Races escalates for latest class of nuclear arms. Shade of a Cold War”, William J. Broad & David E. Sanger, The New York Times, April 17, 2016.

    aqui:http://www.voltairenet.org/article191350.html

    sexta-feira, 15 de abril de 2016

    Presidente Killary

    – Será que o mundo sobreviveria à presidente Hillary?

    por Paul Craig Roberts 
     

    Cartoon de Fernão Campos. Esta é uma tradução do artigo que escrevi para a revista alemã Compact . Fui estimulado pelo discurso inteligente de alto nível que a Compact traz aos seus leitores. Se tivéssemos nos EUA mais pessoas capazes de ir para além do entretenimento e compreender as forças que as afectam, poderia haver alguma esperança para a América.

    A Compact traz esperança à Alemanha. O povo alemão começa a entender que o seu país não é soberano e sim um vassalo de Washington e que a sua chanceler serve a hegemonia de Washington e dos interesses financeiros americanos, não do povo alemão. 
     
    Hillary Clinton está a demonstrar-se a "candidata teflon". Na sua campanha para a nomeação presidencial ela tem escapado sem lesões dos maiores escândalos, qualquer um dos quais destruiria um político. Hillary aceitou subornos maciços, sob a forma de discursos pagos, de organizações e corporações financeiras. Ela está sob investigação pela má utilização de dados classificados, um delito pelo qual numerosos denunciantes estão na prisão. Hillary sobreviveu ao bombardeamento da Líbia, sua criação de um fracassado estado líbio que é hoje uma importante fonte de terroristas jihadistas e da controvérsia de Bengazi. Ela sobreviveu a acusações de que como secretária de Estado arranjou favores para interesses estrangeiros em troca de donativos para a fundação dos Clinton. E, naturalmente, há uma longa lista de escândalos anteriores: Whitewater, Travelgate, Filegate. O livro Queen of Chaos, de Diana Johnstone, descreve Hillary Clinton como “a vendedora top da oligarquia dominante".

    Hillary Clinton é uma representante comprada e paga dos grandes bancos, do complexo militar-segurança e do lobby de Israel. Ela representará estes interesses, não aqueles do povo americano ou dos aliados europeus da América.

    A compra dos Clintons por grupos de interesses é do conhecimento público. Exemplo: a CNN informa que entre Fevereiro de 2001 e Maio de 2015 foram pagos a Bill e Hillary Clinton US$153 milhões por 729 discursos, um preço médio de US$210 mil por discurso.

    Quando se tornou evidente que Hillary Clinton emergiria como provável candidato presidencial pelos Democratas, foi-lhe pago mais. O Deutsche Bank pagou-lhe US$485 mil por um discurso e o Goldman Schs pagou-lhe US$675 mil por três discursos. O Bank of America, Morgan Stanley, UBS e Fidelity Investments pagaram cada um US$225 mil. theintercept.com/...

    Apesar da desavergonhada propensão de Hillary para ser subornada em público, seu oponente, Bernie Sanders, não tem conseguido por em causa a falta de vergonha de Hillary. Os dois principais jornais do establishment, o Washington Post e o New York Times vieram em defesa de Hillary.

    Hillary é uma fomentadora da guerra. Ela empurrou o regime Obama para a destruição de um governo estável e amplamente cooperativo na Líbia onde a "Primavera Árabe" foi o grupo de jihadistas apoiado pela CIA utilizado para desalojar a China dos seus investimentos petrolíferos na Líbia oriental. Ela instou seu marido a bombardear a Jugoslávia. Ela pressionou pela "mudança de regime" na Síria. Ela supervisionou o golpe que derrubou o presidente democraticamente eleito das Honduras. Ela trouxe a neoconservadora Victoria Nusland, que organizou o golpe que derrubou o presidente democraticamente eleito da Ucrânia, para dentro do Departamento de Estado. Hillary chamou o presidente Vladimir Putin da Rússia de "novo Hitler". Hillary como presidente garante guerra e mais guerra. www.washingtonsblog.com/...

    Nos Estados Unidos o governo foi privatizado. Pessoas que ocupam um posto utilizam esta posição a fim de se tornarem ricos, não a fim de servir o interesse público. Bill e Hillary Clinton tipificam a utilização de posições no governo em favor dos interesses do detentor das mesmas. Para os Clintons, governo significa utilizar cargos públicos para ser gratificado por fazer favores a interesses privados. O Wall Street Journal informou que "pelo menos 60 companhias que fizeram lobby no Departamento de Estado durante o seu [de Hillary Clinton] exercício do cargo de secretária de Estado doaram um total de mais de US$26 milhões para a Fundação Clinton. www.washingtonsblog.com/...

    Segundo o washingtonsblog.com , "No cômputo geral, a Fundação Clinton e suas sucursais arrecadaram doações e compromissos de todas as fontes de mais de US$1,6 milhão de milhões, de acordo com as suas declarações de rendimento".

    Segundo o rootsactionteam.com, entre doadores de muitos milhões de dólares para a Fundação Clinton incluem-se a Arábia Saudita, o oligarca ucraniano Victor Pinchuk, o Kuwait, a ExxonMobil, Friends of Saudi Arabia, James Murdoch, Qatar, Boeing, Dow, Goldman Sachs, Walmart e os Emirados Árabes Unidos.

    De acordo com o International Business Times, "Sob Hillary Clinton, o Departamento de Estado aprovou vendas comerciais de armas no valor de US$164 mil milhões para 20 países cujos governos deram milhões à Fundação Clinton". www.ibtimes.com/...

    Hillary Clinton tem escapado incólume a tantos crimes e escândalos que ela provavelmente seria a mais temerária presidente da história americana. Com a corridas armamentista renovada, com a Rússia declarada "uma ameaça existencial para os Estados Unidos" e com a declaração de Hillary do presidente Putin como o novo Hitler, a arrogante auto-confiança de Hillary é provável que resulte em excessos que acabem em conflito entre a NATO e a Rússia. Considerando a extraordinária força destrutiva das armas nucleares, Hillary como presidente podia significar o fim da vida sobre a terra.
    13/Abril/2016 
     
    O original encontra-se em www.paulcraigroberts.org/2016/04/13/president-killary-paul-craig-roberts/

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

    quinta-feira, 7 de abril de 2016

    Autópsia de uma cobertura jornalística

    – Os criminosos ficaram em liberdade e os media encobriram o crime 

     


    por Media Lens 
     
    Na noite de 3 de outubro de 2015, um AC-130 Gunship da US Air Force atacou repetidamente um hospital dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Kunduz, no Afeganistão. Foram mortas 42 pessoas e dezenas ficaram feridas. O avião militar dos EUA efetuou cinco bombardeamentos durante mais de uma hora apesar dos apelos dos MSF aos funcionários afegãos, norte-americanos e da NATO para cancelar o ataque.

    Conforme noticiámos na altura, os MSF foram perentórios na sua condenação do ataque norte-americano. O hospital foi "intencionalmente alvejado" num "massacre premeditado"; foi um "crime de guerra" . A organização médica rejeitou as garantias dos EUA de três inquéritos feitos pelos EUA, pela NATO e pelo governo afegão. Os MSF exigiram uma investigação internacional independente. Não serviu de nada. Os EUA ignoraram o escândalo público e prosseguiram com os seus procedimentos de branqueamento habituais quando pratica crimes de guerra que são denunciados. O resultado foi anunciado a 18 de março. A BBC News noticiou :
    "As forças militares dos EUA levantaram processos disciplinares a mais de uma dúzia de membros depois de um ataque aéreo a um hospital dos Médicos sem Fronteiras (MSF) no Afeganistão ter matado 42 pessoas, no ano passado.

    "O Pentágono reconheceu que a clínica foi alvejada por engano, mas ninguém enfrentará acusações criminais".
    De notar que nas palavras da BBC – "O Pentágono reconheceu que a clínica foi alvejada por engano – são uma expressão tendenciosa. A BBC não mencionou que os MSF tinham apresentado fortes provas de que a clínica foi "deliberadamente alvejada", de que o ataque foi um "crime de guerra" e de que havia necessidade urgente de um inquérito independente.

    A BBC continuava:
    "As sanções, que não foram tornadas públicas, foram sobretudo administrativas.
    "Alguns receberam reprimendas formais, outros foram suspensos do serviço.
    "Houve processos disciplinares para oficiais e para o pessoal mobilizado, mas nenhum general foi punido".
    Os MSF disseram que não iriam fazer comentários enquanto o Pentágono não tornasse público o seu relatório. (Na altura deste artigo, isso ainda não aconteceu).

    Na manhã de 18 de março, reparámos que a notícia da BBC esteve, pelo menos durante algum tempo, ligada a partir da página principal do seu sítio web noticioso. Mas depressa foi retirada da sua posição importante e enterrada profundamente na secção das notícias internacionais. Isto não é invulgar, quando se noticiam os crimes do Ocidente, se é que são noticiados.

    As nossas pesquisas subsequentes na Internet revelaram apenas quatro notícias moderadas de jornais, relativamente breves, na imprensa britânica de que o pessoal dos EUA tinha sido "punido" pelo bombardeamento de Kunduz: no Independent , no Daily Mail , no Telegraph e no Guardian . O Telegraph noticiava que o Pentágono iria em breve "publicar uma versão do seu relatório sobre o ataque. Será redigido de forma a não ser classificado como material confidencial". Por outras palavras, tudo o que seja demasiado embaraçoso ou prejudicial para os interesses dos EUA.

    Uns dias depois, a 23 de março, uma pequena notícia na página 34 do The Times tinha o título "Comandante norte-americano lamenta ataque ao hospital". A totalidade da peça, ao todo 61 palavras, era assim:
    "O novo comandante das forças EUA-NATO no Afeganistão apresentou desculpas pelo ataque errado a um hospital em Kunduz no passado mês de outubro, que matou 42 pessoas. O general John Nicholson do exército dos EUA, foi à cidade do norte para se encontrar com familiares dos que morreram no hospital, dirigido pela organização Médicos Sem Fronteiras. Disse que o incidente fora uma "tragédia terrível".
    Como sempre, as atrocidades do Ocidente são descritas como "tragédia", em vez de "crime de guerra". Nenhum outro jornal nacional do Reino Unido, tanto quanto pudemos ver, noticiou as "desculpas" do general Nicholson.

    O New York Times fez melhor, e incluiu esta citação de Zabiullah Niazi, um enfermeiro que perdeu um olho, um dedo e o uso de uma mão, assim como sofreu outros ferimentos no ataque dos EUA:
    "Atingiram-nos há seis meses e agora vêm pedir desculpas. O chefe do conselho provincial e outros funcionários que disseram que nós aceitamos as desculpas, não teriam dito isso, se tivessem perdido um filho e comido cinzas, como aconteceu connosco".
    Segundo Mr. Niazi, o general Nicholson nem sequer apareceu numa reunião arranjada no gabinete do governador, com dois sobreviventes e membros das famílias das vítimas. Em vez disso, fez um discurso num auditório apinhado, em que os membros das famílias e os sobreviventes não tiveram possibilidade de falar. Como mais um sinal dos procedimentos profundamente encenados, a mulher do general apareceu para "dizer olá, num minuto, e exprimir a sua pena", disse Mr. Niazi. Passou mais tempo – cinco minutos – com mulheres sobreviventes e membros das famílias, numa sala em separado.

    As "desculpas" do general também foram desdenhadas por um médico afegão cujo irmão, também médico, foi morto no ataque norte-americano. O Dr. Karim Bajaouri disse :
    "Estão a pedir perdão por terem morto civis?! Estão apenas a pedir desculpas? Primeiro disparam sobre civis e depois pedem desculpa. Pessoalmente, não preciso dessas desculpas, não as aceito. As nossas feridas morais não podem ser curadas dessa forma".
    O Guardian fez recentemente uma referência de passagem a Kunduz num artigo de Simon Tisdall, editor assistente e colunista de assuntos externos. A peça focava o Afeganistão como uma questão de eleições na corrida presidencial nos EUA.
    "O facto de que a mais memorável contribuição dos EUA para a batalha de Kunduz foi a destruição de um hospital dos Médicos Sem Fronteiras, com a perda de pelo menos 22 vidas, nenhuma delas de rebeldes, realçou como a missão dos EUA no Afeganistão se tornou infeliz e acidental".
    (Estranhamente, o artigo de Tisdall foi inicialmente publicado em 15 de outubro de 2015, mas depois foi atualizado em 29 de março de 2016, presumivelmente para incluir a linha acima.

    Mais uma vez, o jornalismo "liberal" colaborador destaca-se pela sua prontidão em rotular crimes de guerra como "infelizes" e "acidentais".

    Na sequência da declaração do Pentágono sobre as "punições" para os criminosos de Kunduz, um artigo no sítio web da Foreign Policy assinalava:
    "Os defensores dos direitos humanos denunciaram a decisão dos militares norte-americanos de não apresentarem queixas criminais contra as tropas".
    Andrea Prasow, da Human Rights Watch disse ao Foreign Policy:
    "É incrivelmente frustrante e desencorajador. Fizemos a nossa análise do caso e pensamos que devia haver uma investigação criminal".
    Conforme Prasow observou, os militares norte-americanos "têm interesse em proteger os seus".

    A Human Rights Watch acrescentou :
    "Com toda a razão, os membros das famílias das vítimas verão isto como uma injustiça e um insulto: os militares dos EUA investigaram e decidiram que não tinha havido crimes".
    A declaração continuava:
    "A ausência de investigação criminal de funcionários seniores responsáveis pelo ataque não só é uma afronta às vidas perdidas no hospital dos MSF, mas um golpe contra o estado de direito no Afeganistão e em toda a parte.
    Estes comentários contrastam profundamente com a branda indiferença da imprensa "liberal".

    Em resumo, a reação à "punição" do Pentágono dos criminosos de Kunduz, na imprensa "dominante" foi tão instrutiva como de costume. Como habitualmente, não encontramos um único editorial ou coluna que denuncie esta recente lavagem dos EUA de crimes dos EUA.

    Mais uma vez, é prática usual dos media ocidentais troçar dos Inimigos Oficiais, mantendo-se cegos aos crimes dos "nossos" Gloriosos Líderes. 

    O original encontra-se em www.medialens.org/... . Tradução de Margarida Ferreira.

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

    domingo, 3 de abril de 2016

    Terror, terrorismo, terroristas


    por João Carlos Lopes Pereira [*]
     
    Dresden em ruínas. Quando há um atentado terrorista, como os que aconteceram em Paris ou, agora, em Bruxelas, não consigo entendê-lo como julgo que entende a maioria das pessoas que falam na comunicação social, especialmente nas televisões. Segundo esses comentadores – quase todos eles – os atentados foram cometidos por grupos de fanáticos que têm como objectivo destruir a civilização ocidental – os nossos valores, a nossa cultura, o nosso modo vida – e, como fim último, sujeitar-nos às suas crenças e ao seu domínio. A isto se resumiriam as acções designadas por terroristas. E porque assim é, os terroristas agiriam em nome de uma ideia que visaria destruir o mundo ocidental, o que culminaria na ocupação das nossas casas, na pilhagem dos nossos bens, sem esquecer a imposição da burka às nossas mulheres, tudo isto depois da nossa inevitável conversão – à força, se necessário – ao Islão, após o que seríamos constrangidos a prostrar-nos, não sei quantas vezes por dia, virados para Meca. Não acredito numa coisa assim, e presumo que quem o diz – ou deixa, pelo menos, essa ideia no ar – também não acredita. Podem ser uns papagaios bem pagos, mas tontos a esse ponto não são. Seguramente.

    O que está em causa – melhor: o que está por detrás disto tudo – não é, sequer, um choque de culturas, nem é uma questão religiosa. Nem se explica, também, pelo ódio ou, se preferirmos, pela sede de vingança nascida de incontáveis chacinas e humilhações que os europeus, desde sempre, praticaram, coisa que começou porque se outorgavam, em nome da fé, ou a seu pretexto, o direito divino de matar, esfolar e queimar, para além de, convenientemente, saquear os incréus. Nada disto é segredo para ninguém, qualquer compêndio de história o diz, sabendo-se, por exemplo, como portugueses e espanhóis foram por esse mundo fora, com a cruz numa das mãos e a espada na outra, impingindo os seus credos e cobrando em ouro, prata e outros proveitosos embolsos.

    Mais tarde, porque aos impérios, dessas e doutras conjunturas nascidos, competia ter colónias e povos escravizados – toda a África, desde o Mediterrâneo ao Cabo da Boa Esperança, era um mosaico de colónias das potências europeias, o mesmo sucedendo no Médio Oriente, com o Iraque, a Síria, a Palestina e o Líbano a juntarem-se a Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto. E depois – já nos tempos que correm – porque o espírito colonial não morreu com o fim dos impérios, pela razão simples de que as matérias-primas continuam lá (especialmente uma, chamada crude ), a civilização judaico-cristã, que pariu guerras atrás de guerras dentro das suas fronteiras, concluiu que é muito melhor fazê-las fora de portas, a fim de conseguir pela força aquilo que não for possível conseguir pela persuasão, nomeadamente através de governos venais. E quando se tem um parceiro que nasceu com a violência no sangue, para quem as guerras são um modo de vida – refiro-me aos EUA, obviamente – não custa nada convencermo-nos que a civilização começa e acaba nesta coisa chamada Mundo Ocidental.

    Nós, ocidentais – digamos assim, apesar de eu não pretender incluir-me no contexto – é que sabemos como devem viver todos os povos. Nós – eu salvo seja, que disso me excluo! – europeus e norte-americanos, é que definimos as regras do jogo. Nós – ou seja: eles – com as nossas/suas gravatas e etiquetas, é que somos verdadeiramente civilizados. Nós – salvo seja eu, ainda e sempre! – que acreditamos que um homem, chamado Moisés, foi convocado por uma criatura divina, chamada Deus, ao cume de um monte árido, chamado Sinai, e ali recebeu duas tábuas onde, escritos pelo dedo do próprio Deus, estavam todos os mandamentos que deveriam orientar os homens para todo o sempre, somos os primeiros a não cumprir, praticamente, nenhum desses mandamentos. Matamos, roubamos, e passamos a vida a desejar e a tentar possuir tudo o que é do próximo, incluindo a sua mulher, e sendo verdade que Deus não disse – ou não escreveu – que seria proibido a uma mulher cobiçar o homem da próxima, por estar, obviamente, subentendido, tal não deixa de suceder, como o mais lerdo dos mortais está farto de saber.

    E nós – salvo seja, mais uma vez, que "nós" é apenas uma maneira de dizer – que acreditamos em Moisés, apesar de não haver quem testemunhasse esse encontro com o ser sobrenatural – nós, civilização ocidental, judaico-cristã, que dizemos acreditar ter Deus despachado que ninguém cobiçará a casa do seu próximo, nem a mulher do seu próximo, nem o seu escravo, nem a sua escrava (na altura, Deus ainda considerava que a escravatura era uma coisa excelente, o que prova que até Deus se pode enganar), nem cobiçar o seu boi, nem coisa alguma do seu próximo, nada mais temos feito, nesta velha e civilizada Europa cristã, do que exactamente o contrário do que Deus terá dito – ou escrito – a Moisés. Ou que Moisés, para consolidar o seu lugar de patriarca, terá dito que Deus lhe disse, que é como quem diz: terá escrito aquilo que disse ter sido escrito por Deus. Temos – nanja eu – passado os séculos a matar e a morrer em guerras fratricidas, apenas porque desejamos aquilo que é do próximo. Isto é: Não há maiores infractores às leis de Deus, do que precisamente aqueles que dizem acreditar que foi Deus quem, através de Moisés, as pôs a circular.

    Recorde-se, por exemplo, que uma dessas guerras, a dos Cem Anos chamada – que foi composta por vários conflitos, e que durou, na verdade, cento e dezasseis anos, pois decorreu entre 1337 e 1453 – teve como causas as necessidades de os senhores feudais, que eram cristãos dos pés à cabeça, quererem mais terras do que aquelas que já tinham. Queriam, esses eleitos de Deus, as terras do próximo. E mais o que estava lá, incluindo as mulheres.

    Mais tarde, entre 1618 e 1648, decorreu outro conflito, com epicentro na Alemanha, por motivos variados, mas sempre à volta do mesmo: rivalidades religiosas como pretexto, mas, principalmente, por razões territoriais e comerciais. Chamou-se a Guerra dos Trinta Anos. Lá está: queria-se a fazenda e os negócios do próximo. E todos eles – os senhores das partes envolvidas – louvavam a Deus sobre todas as coisas.

    De 1803 a 1815, Napoleão Bonaparte, que se considerava o herdeiro da Revolução Francesa, decidiu que deveria levar os valores da Revolução a toda a parte, esquecendo-se ele próprio de os respeitar, pelo que resolveu fazer-se coroar imperador. Safou-se da guilhotina, mas não se safou dos ingleses. Fosse como fosse, falamos de doze anos durante os quais a cristandade mostrou o seu carácter autofágico.

    No século passado, nasceram nesta mesma Europa civilizada e cristã até mais não poder ser, os dois maiores conflitos mundiais. E cada um matou mais do que o anterior. Sempre pelas mesmas razões. Independentemente do rastilho que as fez despoletar – ambas rebentaram, por curiosidade, tal como a guerra dos Trinta Anos, na Alemanha – era preciso deitar a mão à riqueza alheia. Hitler chamou ao que era do próximo, o seu – dele, Hitler – Espaço Vital. Tal como os norte-americanos chamam àquilo que querem, esteja lá onde estiver, e seja lá de quem for, os seus Interesses Vitais.

    Já vimos, portanto, de que massa é feita esta Europa civilizada, imbuída de ensinamentos bíblicos, cristã até à medula, uma parceira ideal para o Tio Sam, o maior rapinante que anda por aí ao cimo da terra. Deus os fez, Deus os juntou, tal como as duas tábuas da lei.

    Mas perdi-me do fio inicial. Dizia eu que o que está por detrás disto tudo – do terrorismo – não é, sequer, um choque de culturas, nem é uma questão religiosa. Nem se explica, também, pelo ódio ou, se preferirmos, pela sede de vingança nascida de muitas chacinas e humilhações que os europeus, desde sempre, praticaram. É tudo isso amalgamado e utilizado como ingredientes por quem não se amarra a um cinto de explosivos, que não viajou de avião no dia 11 de Setembro, nem foi, como costumava ir, às Twin Towers nesse mesmo dia, nem frequentava o Bataclan. E que, seguramente, sabia que não podia estar no aeroporto de Bruxelas, ou no metro, no dia em que as bombas explodiram. Quem matou, em Bruxelas, é quem vende armas ao Estado Islâmico, é quem lhe compra o petróleo, é quem trata os seus feridos nos hospitais de Israel. É quem despeja bombas sobre as mulheres e as crianças da Faixa de Gaza. É quem roubou as casas e a água aos palestinianos.

    Quem matou, em Bruxelas, ou em Paris, foi quem colaborou activamente com a selvática e desumana destruição da Líbia (Allo, monsieur Sarkozy!), executada pela NATO, onde não morreram 30, nem 40, nem 140 pessoas inocentes, mas centenas de milhares de seres humanos tão inocentes como estes do metro e do aeroporto de Bruxelas.

    Quem matou em Bruxelas, ou em Paris, foi o reles fantoche que aceitou ser um sinistro mandatário de Obama (Allo, monsieur Hollande!), ao armar e financiar as hordas terroristas na Síria, onde os mortos civis, causados por esta guerra inspirada e alimentada pela França e pelos EUA, já ultrapassaram os 300 mil. Quem vir a Síria de hoje, verá um país cuja devastação faz lembrar o que de pior se viu na II Grande Guerra após um qualquer raid aéreo. Aquele país moderno, arejado e desenvolvido, onde as religiões conviviam sem ódios ou querelas, onde o nível de vida fazia inveja a muitos países europeus, como Portugal, por exemplo, é hoje um monte de ruínas devido à interferência estrangeira, porque os governantes europeus e norte-americanos consideram que não pode haver exemplos de sucesso fora do sistema capitalista. Ou fora da democracia na sua única versão "aceitável": a versão em que os interesses dos senhores capitalistas (como se dizia há anos), ou dos Mercados, ou dos senhores Investidores (como se diz agora), prevalecem sobre tudo o resto.

    (Note-se que a Síria cometeu o horroroso crime de manter o petróleo como riqueza nacional, posto ao serviço de todo o povo, e não de qualquer multinacional).

    Quem matou em Bruxelas, como antes em Paris, foram e são aqueles que, dos seus gabinetes governamentais na Europa, ou em Washington, olham para os povos de África ou do Médio Oriente, e desenham no mapa da geoestratégia os destinos que melhor convieram aos seus interesses.

    Quer isto dizer que absolvo os homens que se deixaram desumanizar pela violência e pelos vexames a que os seus povos foram sujeitos, fazendo desabar agora sobre pessoas inocentes o peso de décadas e décadas de humilhações sem limites? Não! De modo nenhum! Por razões claras e óbvias, que são as das pessoas comuns, e por mais uma: estas acções em nada afectam o poder dos líderes europeus e norte-americanos. Muito menos o poder de quem comanda esses líderes e, a nível mundial, a vida de milhões de seres humanos, através dos cordelinhos da economia. Dos Mercados. Ou seja: os senhores Investidores.

    Pelo contrário. O terrorismo é o melhor aliado dos senhores Investidores. Enche de medo os cidadãos, e não há melhor petisco para os senhores Investidores, do que um cidadão amedrontado.

    Se os terroristas percebessem isto, não atacavam em Paris, nem em Bruxelas. Não matariam as pessoas comuns.

    - Então, onde e quem atacariam? – perguntam-me.

    - Se estão à espera que eu diga que deveriam atacar quando e onde se reunisse o Clube Bilderberg, desiludam-se. Não digo!

    - Porquê? – voltam a perguntar-me.

    - Porque o Clube Bilderberg é a maior organização terrorista do mundo. Foi ele que congeminou a Crise, o seu remédio – a Austeridade – e, desta maneira, empobreceu 90% do Humanidade, enriquecendo, em consequência, os restantes 10%.

    O Clube Bilderberg é, portanto, a maior fábrica de terrorismo – e de terroristas – do mundo.

    Ver também:

  • Terrorismos , de Manuel Augusto Araujo

    [*] Jornalista.


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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